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Brasil tem gravura mais velha da América Desenho estilizado de homem tem ao menos 10,5 mil anos de idade e foi feito em abrigo rochoso de Minas Gerais Imagem está entre os exemplos mais antigos de arte do continente; descoberta foi feita por pesquisadores da USP
EDITOR DE “CIÊNCIA E SAÚDE” CLAUDIO ANGELO DE BRASÍLIA Pesquisadores da USP estavam se preparando para arrumar as malas e encerrar seu trabalho na Lapa do Santo, um sítio arqueológico a 60 km de Belo Horizonte, quando toparam com a gravura estilizada no leito de rocha. Não era exatamente uma Mona Lisa: cabeça em forma de C, mãos com três dedos e um enorme pênis ereto compunham a figura de 30 cm. Mas a imagem, descobriram os cientistas, é a mais antiga gravura do continente americano, e um dos mais antigos exemplos de arte das Américas, com pelo menos 10,5 mil anos de idade. "Foi uma sorte enorme e uma surpresa absoluta", diz Walter Alves Neves, bioantropólogo do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP e líder do grupo responsável pelo achado. A sorte não se deve só ao fato de a gravura ter aparecido no fundo da última quadra (como são chamados os quadrados de 1 m de lado que funcionam como unidade básica das escavações arqueológicas) a ser estudada na Lapa do Santo. DATA MARCADA O segundo golpe de sorte tem a ver com a possibilidade de obter uma datação relativamente confiável para a imagem, coisa rara quando se trata de uma gravura. Explica-se: gravuras em pedra, se isoladas, são praticamente impossíveis de datar com precisão. "No caso de uma pintura, a datação dos pigmentos é uma técnica corriqueira. Basta que o pigmento original tenha sido misturado com algum tipo de matéria orgânica", diz Neves. O uso de gordura na mistura da tinta, digamos, permite o emprego da datação por carbono-14. Nela, o sumiço progressivo de uma forma radioativa de carbono, originalmente presente na matéria orgânica, funciona como um "tique-taque" que ajuda a estimar a idade da peça. Acontece que a gravura da Lapa do Santo foi achada 3 cm abaixo de uma fogueira, e o carvão desse fogo pode ser datado pelo método descrito acima. Daí é que vem a idade mínima de 10,5 mil anos, embora outros métodos sugiram que ela pode chegar, na verdade, a 12 mil anos. É o período em que os primeiros seres humanos estavam chegando ao Brasil. "É um achado interessante e importante, em especial quando se considera que há poucas datações confiáveis de arte rupestre antiga", afirma o arqueólogo americano Tom Dillehay, da Universidade Vanderbilt, um dos principais estudiosos do povoamento das Américas. 'TARADINHO' Neves conta que, de brincadeira, o grupo apelidou a figura de "Taradinho", em referência a seu falo ereto. Figuras do tipo, bem como cenas de sexo e até de parto, aparecem em outros exemplares de arte antiga no interior brasileiro, em especial no Nordeste. E o mesmo estilo, aliás, pode ser encontrado nos próprios paredões calcários da Lapa do Santo. "Fazia oito anos que a gente olhava para aquilo [nos paredões] e nunca deu bola, porque era algo impossível de datar e porque o objetivo do nosso projeto nunca foi estudar arte rupestre", conta Neves. O principal interesse da equipe são os sepultamentos, abundantes na área. A descoberta está descrita em artigo na revista científica "PLoS One". | Índice | Comunicar Erros |
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