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EUA buscam liderança em energia limpa com ousadia tecnológica

Agência de projetos avançados do Departamento de Defesa financia até pipa de fibra de carbono

Dinheiro investido anualmente em pesquisas do tipo ainda é muito pouco perto de gastos militares

RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON

Sem política de governo que fixe limites à emissão de gases do efeito estufa, os EUA seguem como vilões do aquecimento global. Mas uma agência estatal de orçamento modesto mostra os primeiros sinais de que o país pode tomar um rumo diferente.

Em um encontro nesta semana, a Arpa-E (Agência de Projetos Avançados em Energia) realizou um congresso exibindo mais de 250 programas de pesquisa em energia que estão na fase de transição entre a experimentação e o mercado. Todos têm como meta oferecer alternativas aos combustíveis fósseis.

Empresas recém-criadas e laboratórios universitários correm por fora tentando criar tecnologias limpas que vão desde pipas equipadas com hélices para gerar energia eólica até bactérias geneticamente modificadas para produzir biodiesel.

Comandada pelo cientista de materiais Arun Majumdar, a Arpa-E tem tentado desde 2009 fomentar ideias na área. O dinheiro para isso não é muito, por enquanto. Com um orçamento de US$ 180 milhões, a agência tem para gastar em um ano o que o exército americano gasta em um dia no Afeganistão.

"A primeira coisa que perguntamos é se, caso o projeto tenha sucesso, vai fazer alguma diferença", diz Arun Majumdar. "A natureza desse tipo de inovação é arriscada, mas nós não corremos o risco pelo risco."

BILL GATES E CLINTON

O encontro em Washington atraiu alguns dos maiores investidores do país. Bill Gates, da Microsoft, elogiou o trabalho de Majumdar e disse que o país precisa criar um mercado de carbono para estimular as energias limpas.

O empresário já está investindo em uma empresa, a TerraPower, que busca tecnologias para usinas atômicas que gerem mais energia com menos lixo nuclear.

O ex-presidente americano Bill Clinton também foi convidado ao evento, onde elogiou a política energética da gestão Obama, mas cobrou mais investimento em inovação. "Acho que o governo deveria investir ainda mais dinheiro na Arpa-E", disse ele.

Aumentar o orçamento da agência, porém, passa por dificuldades políticas e pela superação de críticas de um Congresso traumatizado com o fracasso da Solyndra, empresa de energia solar que faliu no ano passado após contrair mais de US$ 500 milhões em empréstimos do governo.

A estratégia da Arpa-E porém, é diferente, fragmentando o auxílio de pesquisa e distribuindo-o a inúmeros projetos diferentes, na esperança de que algum mostre capacidade de competir e atraia investidores privados.

Por enquanto, parece estar funcionando. Um dos destaques em energia solar no último congresso da Arpa-E foi a 1366 Tecnhologies, empresa que misturou capital estatal e privado para criar uma técnica de fabricação de placas de energia solar 60% mais baratas. "No total, levantamos US$ 26 milhões, sendo que US$ 4 milhões foram da Arpa-E", diz Craig Lund, vice-presidente da empresa.

Isso não significa que a agência não esteja distribuindo dinheiro também para propostas mais ousadas.

Uma das mais inovadoras de todas mostradas no congresso da empresa foi uma tecnologia de geração de energia eólica da empresa californiana Makani Power, que usa turbinas instaladas em hélices numa superpipa.

Um dos criadores da empresa é Don Montague, pioneiro do kitesurfing, esporte que inspirou a ideia. Protótipos foram desenvolvidos com US$ 20 milhões do Google e US$ 3 milhões da Arpa-E.

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