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Análise

Ele conseguia combinar ciência com política e uma aguda crítica social

WAGNER COSTA RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Escrever sobre um mestre do porte do professor Aziz Ab'Sáber é um desafio, dada sua grandeza como pesquisador e como ator social envolvido com as lutas sociais e ambientais do país. Trata-se de um dos principais geógrafos do mundo, responsável por teorias inovadoras, e que também se envolveu diretamente com o debate político e institucional.

Ab'Sáber foi um intelectual engajado, ambientalista e polêmico, ainda mais quando o assunto envolvia a política. Entre suas características pessoais estavam a enorme capacidade de síntese e de oratória. E isso é pouco para descrever um dos maiores pesquisadores brasileiros.

A geografia da vida do professor indica o quanto sua trajetória é articulada à sua história de vida. Do interior de São Paulo, partiu para os rincões do Brasil, descrevendo-os e estudando-os com o afinco de um apaixonado.

Seu engajamento político ocorreu em diversas ocasiões, como quando foi presidente do Condephaat e inovou ao propor o tombamento da Serra do Mar, ampliando o conceito de tombamento para além do caráter histórico e social. Também foi presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), onde promoveu encontros que combinavam discussão científica e política.

No Instituto de Estudos Avançados da USP, integrou o grupo que propôs o projeto Floram, o qual, no começo da década de 1990, já apontava a possibilidade de plantar árvores para captar carbono.

Com suas pesquisas sobre São Paulo e sobre a Amazônia, entre outros temas, projetou-se no mundo. Mas outra de suas características era mais importante: sua aguda crítica social, expressada em diversos momentos, como quando criticou a transposição do rio São Francisco e a reforma do Código Florestal.

Perde-se um grande pesquisador, que argumentava com a ciência em prol dos mais necessitados. A morte de Ab'Sáber, logo após a de César Ades, professor da USP morto na quarta-feira, deixa esta semana como uma das mais tristes da ciência brasileira de todos os tempos.

WAGNER COSTA RIBEIRO é professor do Departamento de Geografia do Instituto de Estudos Avançados da USP

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