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ASTROFÍSICA
Máquina montada na Suíça deve ajudar astrônomos a entender questões como a natureza da matéria escura
Supercomputador vai investigar o cosmos
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir deste ano, um cubo de
um metro e meio de largura numa sala da Universidade de Zurique, Suíça, vai acalentar entre os
astrônomos europeus o sonho de
desvendar segredos profundos do
Universo. Trata-se do maior supercomputador do continente
dedicado a estudos astrofísicos.
"O computador já está concluído e agora está na fase de testes",
conta Lucio Mayer, astrônomo
italiano que trabalha no projeto.
Não é o maior do mundo, mas pode muito bem ser o melhor para
os astrônomos, em razão de sua
natureza exclusiva.
"Claro, máquinas como os mais
de 2.000 processadores Compaq-Alpha em Pittsburgh [nos EUA]
vencem a nossa -pelo menos no
tamanho", reconhece o italiano.
"Mas eles têm dezenas de usuários, de biólogos a climatologistas.
Nós seremos os únicos."
Com o poder computacional
proporcionado pelos 288 processadores Athlon (os mais recentes
com frequência de 2,2 gigahertz)
interconectados no supercomputador, Mayer e outros investigarão coisas que atualmente estão
além da compreensão, como a
natureza da matéria escura.
Essa substância exótica foi proposta pelos cientistas para explicar interações gravitacionais entre galáxias que não podiam ser
explicadas só pela matéria visível
desses corpos. Havia mais gravidade do que a massa observável
justificava, e a quantidade faltante
só podia estar em um tipo de matéria diferente do conhecido. Por
não ser visível, esse material ganhou o nome de matéria escura.
O problema é que, como ela não
pode ser detectada, ninguém sabe
do que se trata. Há hipóteses, mas
a única forma de testá-las é por
meio de simulações. É onde entra
o supercomputador de Zurique.
"Pretendemos executar simulações em que seguimos a formação
de um único objeto -uma galáxia ou um agrupamento- em diferentes modelos", explica Mayer.
"Com isso, veremos se os diferentes resultados podem ser usados para planejar observações ou
até experimentos de física de partículas", arremata. "Vamos precisar de resolução incrivelmente alta, mas podemos fazê-lo. Nosso
chefe, Ben Moore, inaugurou essa
linha de pesquisa há três anos."
Moore, um prestigiado cosmólogo britânico, é o chefe da equipe
responsável pelo projeto de construção do supercomputador em
Zurique e um dos grandes especialistas em matéria escura.
A nova máquina também promete resolver problemas ligeiramente mais mundanos, como a
formação e a evolução de galáxias.
"Precisamos de simulações com
maior resolução para ver se alguns dos problemas atuais que a
teoria tem em reproduzir, por
exemplo, um disco galáctico tão
grande quanto o da Via Láctea,
advêm de nosso modelo do Universo ou de nossa inabilidade de
observar processos físicos em escalas menores", diz Mayer.
O estudo da evolução de sistemas planetários também promete, graças ao novo equipamento.
"Queremos rodar uma simulação
que comece com a fragmentação
de uma nuvem molecular em estrelas e então dê um zoom em
uma única estrela e siga em detalhe a evolução do disco protoplanetário em torno dela", conta o
italiano. "As pessoas ainda não
preencheram essa lacuna e é por
isso que as condições iniciais de
formação planetária são um tanto
vagas atualmente."
A variação de escala numa simulação como essa demonstra o
poder do supercomputador.
"Uma nuvem molecular tem o tamanho de um parsec [3,2 anos-luz]. O disco teria uma escala mil
vezes menor e os protoplanetas se
formando nele estão numa escala
mais cem a mil vezes menor", diz
Mayer. "Isso poderá ser computado na nossa nova máquina."
Usando o supercomputador já
instalado em Pittsburgh, Mayer
publicou na revista "Science" em
novembro o resultado de simulações que finalmente parecem resolver o mistério da formação dos
planetas gigantes gasosos. A máquina de Zurique pode oferecer
ainda mais, por ser configurada
para os astrônomos. "Já sabemos
que esse nosso programa roda 2,5
vezes mais rápido aqui do que na
máquina de Pittsburgh."
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