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São Paulo, quinta-feira, 01 de janeiro de 2004

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BIOTECNOLOGIA

Cientistas adaptam testes de DNA e superdesinfetantes para a luta contra ataques químicos ou biológicos

Pesquisa gera novas armas contra terror

Stephen Jaffe/France Presse - 01.nov.2001
Especialistas deixam um prédio do Senado americano que sofreu ataque com antraz em 2001


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Produtos e tecnologias amadurecidos nas duas últimas décadas, somados a um esforço de pesquisa intenso nos dois últimos anos, resultaram em medidas capazes de conter e minimizar o risco de ataques terroristas com armas químicas e biológicas -pelo menos em países como os EUA, onde o esforço se concentrou.
Os novos recrutas da guerra contra o terror incluem desde um clássico teste para detecção de material genético que rendeu um prêmio Nobel até um superdesinfetante usado em porcos, vacas e até mesmo em um navio de cruzeiro da Disney.
O americano Kary B. Mullis ganhou o Nobel de Química em 1993 pela invenção da técnica de PCR (reação em cadeia de polimerase), um processo capaz de pegar um pedaço pequeno de DNA e aumentar sua quantidade replicando-o muitíssimas vezes.
Trata-se, portanto, de um poderoso instrumento de detecção de micróbios específicos usados em guerra biológica, como a bactéria do antraz, nome científico Bacillus anthracis. Várias empresas já fabricam detectores de ataques biológicos usando testes de PCR.
Esse bacilo causou cinco mortes nos EUA em 2001 em pessoas que não tiveram tratamento antes da manifestação dos sintomas (úlceras na pele, febre, fadiga e problemas respiratórios).
Rapidez na detecção, no tratamento de pessoas expostas e na descontaminação de locais amplos são requisitos fundamentais das novas tecnologias.
O Virkon, nome de desinfetante criado nos anos 80 e produzido no Reino Unido, é um pó dissolvido em água com um ligeiro aroma de limão. É usado para desinfetar gado em risco de contaminação natural por antraz, mas seu potencial contra vários outros vírus e bactérias o tornou um dos preferidos em hospitais para esterilizar equipamento.
Como navios são um ambiente isolado, qualquer doença tende a se alastrar rapidamente. O Virkon foi usado com sucesso para debelar esse problema. E agora entrou na lista dos produtos úteis contra um atentado com antraz.

Progresso sem precedentes
O progresso na área teve um ritmo "sem precedentes", segundo os autores de um estudo sobre as novas defesas contra o terror, publicado na revista "Science" (www.sciencemag.org).
Os autores do estudo -Patrick Fitch, Ellen Raber e Dennis Imbro- são cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, nos EUA. Fitch chefia ali o Programa de Segurança Nacional Química e Biológica.
Ambientes fechados e com grande concentração de pessoas estão entre os alvos potenciais de ataques com armas químicas ou biológicas. Os japoneses da seita Aum Shinrikyo (Verdade Suprema) fizeram um atentado no metrô de Tóquio em 1995 com o gás sarin, matando 12 pessoas.
O sarin é uma arma química que age paralisando o sistema nervoso, parando a respiração e matando rapidamente. Cerca de 5.000 pessoas foram afetadas.
A detecção precoce é essencial, pois esses agentes são em geral invisíveis, ficam dispersos pelo ar. Isso multiplica o número de pessoas expostas e causa pânico generalizado. Mesmo que não consiga matar milhares de pessoas, os terroristas teriam atingido um dos seus objetivos ao criar caos e paralisia na sociedade.
"Uma gama de escolhas está disponível às forças de resposta para sistemas de monitoramento e detecção, tecnologias de identificação e reagentes para descontaminação. Desafios correntes incluem enfoques para responder ainda mais rapidamente, com maior custo-benefício, e com a maior chance de minimizar risco de saúde e dano colateral", concluíram os autores do estudo.



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