São Paulo, sexta-feira, 01 de janeiro de 2010

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Grupo cria diagnóstico para câncer animal

Ele detecta doença facial e infecciosa que ameaça diabos-da-tasmânia; feito pode evitar a sua extinção

Wayne McLean/Creative Commons
Diabo-da-tasmânia descansa; doença letal e enigmática põe espécie feroz, que inspirou o personagem de desenho Taz, em risco

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo internacional deu um grande passo para controlar uma das doenças mais enigmáticas e letais do mundo -um câncer facial infeccioso que está dizimando os diabos-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii).
Se não for enfrentada, a moléstia pode levar esses marsupiais pequenos e ferozes, inspiradores de desenhos animados, à extinção. Na revista "Science", o grupo propõe um método de diagnóstico dos tumores, que detectaria a doença com confiabilidade de quase 100%.
"Isso ajudaria em projetos em que diabos com câncer estão sendo removidos da população, para tentar controlar a doença", diz o veterinário catarinense Alexandre Kreiss, da Universidade da Tasmânia, um dos autores. A remoção é, até agora, a única medida possível. Não existem vacinas ou tratamentos contra esse câncer.
O diagnóstico rápido e preciso se tornou viável porque foi possível identificar a provável fonte dos tumores faciais. Analisando o padrão de expressão do DNA das células tumorais, a equipe descobriu grande semelhança com as células da bainha de mielina, que "encapa" as terminações nervosas.
Um dos genes ativados nos tumores leva à produção de uma proteína das células da bainha de mielina, a periaxina, cuja detecção num tumor confirmou que ele correspondia ao temido câncer em 100% dos casos. Isso sugere que a doença surgiu quando células da bainha perderam suas características originais e começaram a se multiplicar feito loucas.

Vida bizarra
Os cientistas confirmaram também que a doença se comporta feito um parasita. É que o material genético das células do câncer é uniforme, como se cada tumor fosse um clone do outro, independente do bicho doente. O DNA dos diabos não bate com o dos seus tumores.
Ou seja: tudo indica que a doença surgiu tempos atrás num indivíduo, que transmitiu as células tumorais via mordidas (como o nome indica, diabos-da-tasmânia são muito brigões). Desde então, o tumor saltou de bicho em bicho, como se fosse um ser independente.
Mas os diabos infectados não deveriam rejeitar as células estranhas? "Não sabemos por que não há rejeição. Suspeitava-se que a baixa diversidade genética entre os animais explicasse, mas ela é suficiente para levar à rejeição", diz Kreiss. Para ele, é possível que, com o tempo, o tumor fique menos violento, já que ele teria mais chance de se espalhar se não matasse os hospedeiros. (RJL)


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