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São Paulo, sábado, 01 de fevereiro de 2003

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MEDICINA

Dispositivo para monitorar anestesia geral criado por IPT, USP e Incor pode substituir importado até o fim do ano

Sensor nacional tira pressão em tempo real

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Sensor nacional é apresentado em 3 formas de encapsulamento


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e do Incor (Instituto do Coração) criaram o primeiro sensor de pressão arterial descartável feito com tecnologia nacional.
O brinquedinho vital diz àquele tradicional monitor da sala de cirurgia, geralmente preto e verde, como representar graficamente, em tempo real, a pressão do paciente. É um tipo de controle muito importante para o acompanhamento das condições de quem está deitado na mesa, sendo revirado pelos médicos.
"Praticamente toda cirurgia realizada com anestesia geral exige o monitoramento constante da pressão arterial", diz Idágene Cestari, do Laboratório de Bioengenharia do Incor, em São Paulo, um dos criadores do dispositivo.
O sistema não é uma novidade médica -já existem diversos modelos, fabricados no exterior, que são usados nos hospitais brasileiros. Mas estima-se que a produção do sensor nacional possa reduzir em até 30% seu custo, segundo Mário Gongora Rubio, líder da equipe que desenvolveu o aparelho no IPT. Além dele e de Cestari, o trabalho contou com a participação de Edgar Charry Rodriguez, pesquisador do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP.
Cestari não se arrisca a precisar quanto o sistema nacional poderia ser mais barato, mas acredita no potencial. "Com esse dólar que está aí, esperamos que o impacto seja bastante grande nos custos dos hospitais", diz ela.
O sensor é um pequeno dispositivo "plugado" no paciente por meio de um pequeno tubo em uma de suas artérias -da mesma forma que se faz com soro fisiológico. "Com a diferença de que o soro é intravenoso, é ligado a uma veia, e o sensor de pressão precisa ser ligado a uma artéria", explica Cestari. A diferença entre veias e artérias é que as primeiras transportam sangue a caminho da reciclagem, rico em gás carbônico e pobre em oxigênio, e as últimas abastecem o corpo com oxigênio recém-obtido nos pulmões.
Como o sensor entra diretamente em contato com o sangue, é bom que ele seja totalmente descartável, para evitar contaminação por patógenos como o vírus HIV, causador da Aids. "Há alguns sistemas que são semidescartáveis, mas o ideal é que ele seja completamente descartável", diz Cestari. Assim é o protótipo desenvolvido pelo grupo.
Em razão disso, é óbvio que o custo para os hospitais acaba sendo expressivo. "O sensor de pressão estrangeiro custa de US$ 30 a US$ 35", diz Rubio. Só no ano passado o Hospital das Clínicas, em São Paulo, adquiriu pelo menos algumas dezenas de milhares de unidades descartáveis. E hospitais com menos recursos costumam usar até sistemas de medição proibidos pelo Ministério da Saúde, como o chamado cachimbo de mercúrio, que não é seguro até pela toxicidade da substância.

Em busca de fabricante
Os direitos para a fabricação do sensor desenvolvido no IPT, na USP e no Incor já estão sendo negociados com companhias nacionais. "Estamos acertando com várias empresas", diz Rubio. "Inclusive com uma delas as discussões estão em estágio avançado", completa Cestari. "Acredito que até o final do ano já teremos as primeiras unidades sendo vendidas, talvez até antes disso."
O rumo do projeto sempre foi esse: montado com verbas da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), ele deveria levar essa tecnologia até a efetiva produção industrial. Mas não há patente alguma depositada.
"Como a tecnologia não é nova, não podemos pedir patente de invenção", explica Cestari. "O que podemos é pedir uma patente de modelo industrial", mas isso só pode ser feito quando alguma indústria estiver ao menos habilitada a fabricar a peça. Segundo ela, isso deve ocorrer em breve.


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