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Gaúchos investigarão colapso de geleira
Grupo vai à Antártida para avaliar a parcela de culpa do aquecimento global no sumiço da plataforma de gelo Larsen B
Pesquisadores da UFRGS
vão perfurar capa glacial na
península Antártica para
construir um histórico de
temperaturas da região
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Pesquisadores do Rio Grande do Sul embarcam para a Antártida no próximo verão para
tentar estabelecer uma verdade inconveniente: se a quebra
da plataforma de gelo gigante
Larsen-B, que chocou os cientistas em 2002, foi um fenômeno único ou já se repetiu em algum ponto dos últimos séculos.
A equipe do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas
da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) viajará com chilenos e americanos
a um platô a 2.000 metros de
altitude na península Antártica. A expedição é um dos projetos do Brasil para o Ano Polar
Internacional, mutirão de pesquisa que será lançado hoje.
O principal objetivo dos projetos de pesquisa do programa
é compreender melhor a dinâmica do gelo, em especial nas
calotas polares da Antártida e
da Groenlândia. Essas duas regiões concentram cerca de 70%
da água doce do planeta e são a
chave para estimar o quanto o
aquecimento global afetará o
nível do mar no futuro.
O platô Detroit, local escolhido para a expedição brasileira, é
emblemático nesse sentido. Ele
está no topo da bacia de drenagem da plataforma Larsen, no
mar de Weddel, que perdeu
uma de suas partes em 2002.
O derretimento, em si, não
apresentou risco para o nível
dos oceanos: afinal, elas já estava flutuando sobre o mar
-pense no gelo em um copo de
refrigerante, que não aumenta
seu nível quando derrete. Por
outro lado, ele causou a aceleração das geleiras continentais
rumo ao mar, afetando indiretamente o nível dos oceanos.
Gelo furado
Durante dois meses, os cientistas vão perfurar a capa glacial do platô em busca daquilo
que foi a plataforma Larsen nos
últimos 2.000 anos. "Esse local
foi escolhido porque a 150 km
dali a temperatura esquentou
3C nos últimos 50 anos, muito
mais que a média global", disse
à Folha o glaciologista Jefferson Simões, que lidera a expedição brasileira.
O grupo vai tentar obter cilindros de gelo que revelem a
composição química do ar naquele local ao longo dos últimos dois milênios. É possível
obter essa informação analisando a composição de bolhas
de ar aprisionadas durante a
deposição da capa glacial. Isso
revela a temperatura na cabeceira da Larsen nesse período.
Simões diz que não é possível
provar categoricamente que o
aquecimento global causou o
desprendimento da Larsen.
"Mas, ao menos para esse período [de 2.000 anos], poderemos falsear essa hipótese", diz.
A missão também tentará
determinar se a precipitação de
neve ali agora está menor que o
total de gelo lançado no mar.
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