São Paulo, domingo, 01 de março de 2009

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Molécula combate 3/4 dos vírus de gripe

Em teste de laboratório, anticorpo se mostrou capaz de reconhecer e atacar 12 de 16 variedades do patógeno da doença

Sucesso com estratégia foi o segundo anunciado em uma semana; técnica ainda não é diretamente aplicável em uma vacina para humanos

"Science"
Imagem gerada por computador mostra a estrutura mostra a estrutura do anticorpo CR6261, usado na pesquisa

DA REDAÇÃO

Um teste de laboratório que usou um anticorpo especialmente selecionado para combater o vírus da gripe obteve sucesso contra 12 das 16 variedades do patógeno. O resultado da pesquisa, realizada por cientistas californianos e holandeses, foi anunciado uma semana depois de outro grupo americano ter relatado o êxito de uma técnica semelhante contra oito subtipos do patógeno.
Anticorpos são moléculas que atuam como soldados no sistema imunológico, atacando corpos invasores. São produzidos aos montes no organismo, mas infelizmente não funcionam bem quando topam logo de cara com o vírus da gripe.
O problema é que o patógeno sofre muitas mutações e interações ao longo do planeta, e quando ele volta a atacar uma pessoa que já havia se livrado dele, os anticorpos não o reconhecem mais. A variedade do vírus que predominou em São Paulo no ano passado pode não ser a mesma do ano que vem.
Um anticorpo que reconhecer uma parte do vírus que nunca se altere e seja capaz de atacá-la, porém, nunca fora visto. Mas isso é o que os americanos do Instituto Scripps e os holandeses da farmacêutica Crucell relatam ter achado agora, parcialmente, em estudo escrito para a revista "Science".
O curioso foi que esse novo anticorpo especial foi encontrado dentro de um homem comum, que havia recebido apenas uma dose de vacina ordinária contra gripe para protegê-lo de um único subtipo da doença. (Cada tipo de vírus é classificado de acordo com sua hemaglutinina -proteína que reveste sua superfície, da qual existem 16 variedades.)
Usando equipamentos modernos para isolar anticorpos e determinar suas estruturas moleculares, os pesquisadores extraíram uma infinidade de anticorpos do voluntário da pesquisa e montaram uma "biblioteca" de moléculas para testar. O anticorpo que se saiu melhor foi um batizado com o código CR6261. Foi capaz de reconhecer e atacar 12 tipos da hemaglutinina, em uma parte da proteína que não costuma sofrer mutação. Ou seja, o CR6261 nunca "esquece" os vírus de gripe que sabe atacar.
Segundo os cientistas, muitas pessoas podem ter anticorpos com capacidade semelhante a esse, mas seus organismos nem sempre os produzem ou os usam de modo eficiente.
Entre os subtipos do influenza que o CR6261 derrotou está o H5, da gripe das aves -altamente agressivo, mas pouco eficaz em infectar humanos, por enquanto. O H1, um dos que mais circula entre pessoas e responsável pela grande pandemia de 1918, também sucumbiu ao novo anticorpo. Já o H3, uma variedade importante, ainda está fora de alcance.
Mesmo com algumas lacunas a preencher, porém, os cientistas já mostram entusiasmo.

Santa vacina
"Isso marca o primeiro passo na direção do "Santo Graal" da imunização contra o influenza: o desenvolvimento de uma vacina universal de proteção abrangente", afirmou Ian Wilson, pesquisador do Scripps, em comunicado à imprensa. "Uma vacina assim poderia ser dada a uma pessoa apenas uma vez e agir como um protetor universal contra a maioria dos subtipos de gripe."
O problema agora será tentar encontrar uma maneira de criar uma vacina que estimule o corpo a produzir o anticorpo correto. Uma outra estratégia seria produzir anticorpos monoclonais -técnica que fabrica anticorpos idênticos em série. Essa abordagem, porém, ainda é cara e pouco prática.
Segundo os cientistas do Scripps, é difícil dizer quão próxima está a vacina definitiva contra a gripe, mas conhecer a estrutura de uma molécula como o anticorpo CR6261 é um passo importante no caminho.


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