São Paulo, sábado, 01 de maio de 2010

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Óleo chega à costa e Obama congela novas perfurações

Vazamento no golfo do México pode se tornar o mais grave no país em décadas

Mau tempo frustra esforços de contenção da mancha; na Louisiana, pescadores param e governo critica a BP, empresa responsável

Ann Heisenfelt/Efe
PRIMEIRA VÍTIMA
Veterinárias de grupo de resgate de aves da Louisiana limpam alcatraz contaminado por petróleo, capturado no mar; óleo deixa as penas permeáveis, matando os animais por afogamento

DA REDAÇÃO

O óleo que vazou da explosão de uma plataforma no golfo do México começou a atingir a costa sul dos EUA ontem, ameaçando aves marinhas, manguezais e a bilionária indústria pesqueira da região.
O desastre, que pode se tornar o mais grave do gênero no país em décadas, fez o presidente Barack Obama suspender ontem todas as novas licenças para exploração de petróleo no mar. Ele pediu ao secretário do Interior, Ken Salazar, que liste em 30 dias as tecnologias que possam ser usadas para evitar novos acidentes do tipo.
"Vamos nos assegurar de que todas as concessões autorizadas tenham essas salvaguardas", declarou o presidente. A suspensão das licenças não deve ter efeito imediato, já que não há pedidos pendentes para os próximos meses.
A ampliação da exploração oceânica é peça-chave da política de clima e energia da Casa Branca. Ao liberar o litoral do Atlântico e o norte do Alasca às perfurações, o governo espera reduzir a dependência de óleo do Oriente Médio e angariar votos republicanos para a lei de mudança climática, em fase crítica de tramitação no Senado.
Porém, poucas horas depois da declaração de Obama, uma segunda plataforma virou no golfo. Até o fechamento desta edição, não havia informação sobre risco ambiental.

Resistência
A mancha de mais de 200 km de extensão foi produzida após o acidente com a plataforma Deepwater Horizon, operada pela petrolífera BP, no último dia 20. A explosão, que afundou a plataforma e matou 11 pessoas, causou o vazamento de óleo cru de um poço a 1.500 metros de profundidade. Estima-se que 5.000 barris estejam vazando por dia. Várias tentativas de limpar o petróleo já foram feitas, de queimas controladas até a pulverização com produtos químicos. Mas as condições meteorológicas ruins -ondas fortes e previsão de temporais- estão atrapalhando.
Ontem o governador do Estado da Louisiana, Bobby Jindal, disse também que as dezenas de quilômetros de boias de contenção que estão sendo empregadas não estão conseguindo conter a mancha.
"As primeiras áreas impactadas por essa mancha de óleo são regiões costeiras críticas e frágeis", disse ele. "Os próximos dias serão cruciais. Por isso preciso fazer todo o possível para proteger nosso litoral." A Louisiana e a Flórida decretaram estado de emergência.

Exxon Valdez
Pior ainda, não há previsão de que o poço de onde o óleo vaza seja vedado tão cedo. A BP tem tentado, sem sucesso, fechar uma válvula da plataforma danificada que controla o fluxo do poço usando robôs submarinos. Segundo Daren Beaudo, porta-voz da empresa, uma solução definitiva para o vazamento -cavar um segundo poço e por ele injetar concreto no local do vazamento- pode levar "um par de meses".
Se o derramamento persistir por esse tempo, o desastre no golfo pode superar o pior derrame de óleo da história dos EUA, o do superpetroleiro Exxon Valdez, em 1989, no Alasca.
"Eu estou assustado. Isso é muito, muito grande", disse Davis Kennedy, da Noaa (Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera). "E os esforços necessários para fazer algo a respeito são inacreditáveis."
A BP foi criticada ontem por várias autoridades americanas, de Jindal à secretária de Segurança Interna, Janet Napolitano. O executivo chefe da empresa, Tony Hayward, disse que compensará os afetados.
"Nós estamos nos responsabilizando completamente pelo vazamento e vamos limpá-lo, e, onde as pessoas puderem apresentar reclamações legítimas de danos, vamos honrar isso."
Os prejuízos à indústria pesqueira na Louisiana poderiam chegar a US$ 2,5 bilhões, e o impacto ao turismo na península da Flórida pode ser de até US$ 3 bilhões.
Por enquanto, moradores e trabalhadores de cidades como Venice, Louisiana, são os que estão sentindo mais diretamente os efeitos da mancha. Toda a atividade de pesca, inclusive de camarões -a base da economia local-, foi suspensa em Venice na manhã de sexta.
Todos os barcos pesqueiros da cidade foram levados ao cais. Uma empresa local de frutos do mar, Sharkco, estava vendendo seus últimos 25 quilos de camarões. "São os últimos camarões em muito, muito tempo", gritou o dono da firma, a pescadores que passavam pelo local e que compraram os camarões por US$ 3 o quilo.

Com agências internacionais e "The New York Times"



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