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ASTRONOMIA
Nuvem sugere misteriosa atividade geológica em lua de Saturno
Cassini vê vapor d'água em Encelado
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante a missão da sonda
americana Cassini, que começou
em 2004 e tem pelo menos mais
três anos pela frente, Titã era para
ter sido a principal "estrela" da
constelação de luas que orbitam
ao redor de Saturno, o segundo
maior planeta do Sistema Solar.
Mas um pequeno astro, com cerca de 500 quilômetros de diâmetro, está tentando roubar a cena.
Os cientistas acabam de detectar
uma grande nuvem de vapor d'água sobre a superfície de Encelado, achado que desde já apresenta
várias implicações enigmáticas.
A descoberta foi feita durante o
último sobrevôo rasante da Cassini sobre essa lua, pouco mais de
duas semanas atrás. Na ocasião, a
sonda passou "raspando" a apenas 175 quilômetros da superfície.
Já se desconfiava que o solo desse satélite natural relativamente
pequeno fosse composto por gelo,
mas o fato de que partes dele evaporam e são ejetadas em grandes
nuvens de gás apresenta mistérios
adicionais. De onde vem o calor
interno para isso, num mundo
tão pequeno como Encelado?
"É um belo mistério", disse à
Folha John Spencer, do Southwest Research Institute, cientista
envolvido com a missão da Cassini. "É provavelmente calor de marés [ou seja, os chacoalhões gravitacionais que a presença do gigante Saturno provoca no interior da
lua], não conseguimos pensar em
outro mecanismo. Mas não temos
uma boa explicação do porquê de
o aquecimento ser tão forte."
O achado revela que a lua está
"geologicamente" agitada neste
exato momento. "Já sabíamos pelas imagens que havia atividade
geológica relativamente recente.
Mas até aí poderia ter sido algo há
centenas de milhões de anos.
Agora sabemos que está acontecendo neste momento."
Vão-se os anéis
Além de gerar uma atmosfera
para Encelado (composta em
65% por vapor d'água e em 20%
por hidrogênio molecular), as ejeções têm um subproduto ainda
mais intrigante: são elas as responsáveis pelo material que forma o anel E, o mais exterior e discreto dos anéis de Saturno.
"O anel E parece ser singular no
sistema saturnino porque é gerado por poeira de uma lua", diz
Spencer. "Os outros anéis de Saturno são bem diferentes, muito
mais densos e feitos de partículas
maiores. Provavelmente foram
feitos de outra maneira -talvez
pela destruição de uma lua ou por
pedregulhos que jamais se reuniram para formar uma lua."
Os cientistas viram nos traços
observados na superfície de Encelado semelhanças impressionantes com outras duas luas geladas,
mas de Júpiter -Europa e Ganimedes. Suspeita-se que as duas,
alimentadas pelo efeito de marés
joviano, tenham energia interna
suficiente para conservar oceanos
globais de água líquida -composto essencial à vida- sob suas
superfícies congeladas.
Poderia Encelado, sendo muito
menor que Europa e Ganimedes,
entrar nesse seleto grupo dos corpos no Sistema Solar que têm
água em estado líquido?
Spencer não descarta a possibilidade, mas enfatiza que ainda faltam dados para considerar essa
hipótese. "Poderia haver água líquida, mas não temos boas evidências para defender isso ainda",
explica. "Claramente, as temperaturas que estamos vendo agora
estão bem abaixo das temperaturas exigidas para a presença de
água líquida."
(SN)
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