São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Sonda sentiu o gosto da água em Marte, diz Nasa

Espaçonave-robô Phoenix cozinhou gelo para fazer a análise química do solo

Experimento foi primeira evidência direta da presença da substância próxima à superfície do planeta; grupo estende missão em um mês

Nasa
Braço da sonda Phoenix em ação no planeta Marte

DA REDAÇÃO

A Nasa afirmou ontem que a sonda Phoenix conseguiu, finalmente, tocar e provar a água de Marte. A notícia foi divulgada quando a agência espacial dos EUA revelou os resultados do teste feito com uma amostra de solo escavada pela espaçonave robô perto do pólo Norte do planeta, local onde havia pousado em 25 de maio.
Evidências de água já haviam sido recolhidas antes, mas a confirmação direta só veio agora com o Tega (Analisador de Gás Térmico e Expandido, em inglês), instrumento que carrega um espectrômetro de massa -dispositivo que a sonda usa para fazer análises químicas.
Grosso modo, o que o Tega faz é cozinhar amostras de solo e medir a temperatura em que os componentes do material vão derretendo. Como parte do composto aquecido cedeu quando sua temperatura negativa subiu até 0C, os cientistas concluíram que era mesmo água -H2O- que havia lá.

Sabor e textura
"Temos água" anunciou William Boynton, um dos cientistas que coordenam a missão da sonda Phoenix, em entrevista coletiva ontem. "Já tínhamos visto evidências desse gelo de água antes, em observações da [sonda] orbitadora Mars Odyssey e em pedaços [de material] que desapareciam, observados pela Phoenix no mês passado", disse. "Mas essa é a primeira vez que a água marciana é tocada e provada."
A agência espacial norte-americana aproveitou a confirmação da descoberta para anunciar que a missão da sonda será estendida até 30 de setembro. "A Phoenix está saudável e as projeções para energia solar parecem boas, então nós queremos aproveitar a vantagem de fazer essa pesquisa em um dos locais mais interessantes de Marte", afirma Michael Meyer, cientista-chefe do Programa de Exploração de Marte da agência espacial.
Com o prolongamento das observações e experimentos, os cientistas da Nasa pretendem aprofundar a importância dessa "prova científica" da ocorrência de água.
"Nós esperamos que seja possível responder se essa é uma zona habitável em Marte", disse Peter Smith, um dos pesquisadores que coordenam a missão da Phoenix.
A notícia do sucesso na confirmação da análise química da água ajudou os cientistas a justificarem os gastos extra que a missão terá em relação ao previsto. O orçamento original do projeto é de cerca de US$ 420 milhões, e precisará de mais US$ para completar o período estimado de "horas extras".
Os pesquisadores planejam escavar mais duas áreas próximas à sonda, que não é móvel como os famosos jipes-robô Spirit e Opportunity. Uma delas foi apelidada de "Terra do Nunca", outra de "Armário".

Chance para a sorte
A confirmação da presença de gelo na superfície de Marte obtida no início da semana, foi em parte, um pouco de sorte.
Desde que a sonda escavou suas primeiras amostras, no mês passado, os cientistas notaram a presença de um material branco no chão, dentro do sulco escavado pela sonda para coletar solo. Com o passar dos dias, os pesquisadores perceberam que o material estava sumindo, e concluíram que ele provavelmente era gelo de água sublimando -passando diretamente do estado sólido para o gasoso. A confirmação definitiva poderia surgir apenas com o espectrômetro.
Após duas tentativas fracassadas de despejar amostras de solo misturado à substância branca suspeita em um dos oito fornos da Phoenix, cientistas decidiram então coletar uma amostra sem o material. A intenção era analisar apenas a areia marciana, e deixar o problema da água para depois.
Por acidente, porém, a amostra despejada dentro do espectrômetro tinha um pouco de gelo, e quando o instrumento começou a operar, a evidência da substância apareceu.
A intenção agora é tentar descobrir algo mais sobre o passado geológico de Marte. "Estamos querendo entender a história do gelo, tentando descobrir se esse gelo alguma vez derreteu, e por meio do derretimento criou um ambiente líquido que modificou o solo", afirma Smith. "Estamos recebendo os dados."


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