São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000 |
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+ ciência Mau funcionamento do lobo temporal e parietal pode levar à discalculia, deficiência na faculdade de calcular; brasileiro criou teste para diagnóstico O físico que esqueceu a tabuada
Luciano Grüdtner Buratto
O físico A.A., 47, passou pelo
maior pesadelo de sua profissão: perdeu parte da capacidade de lidar com o cálculo matemático. A.A. sofre de discalculia.
Uma lesão no lobo temporal esquerdo
do cérebro resultou em uma diminuição
na capacidade do físico de memorizar
informações por curto espaço de tempo
(memória de curto prazo), o que prejudicou seu desempenho nas mais elementares operações, como soma e subtração.
Ele frequentemente se esquece do "vai
um" na adição, por exemplo.
Sua memória de eventos distantes no
tempo (memória de longo prazo) também sofreu com a lesão. A.A. esqueceu
parte da tabuada e tem dificuldade para
lembrar os algoritmos (série de passos)
de operações matemáticas básicas. Ele
precisa esforçar-se, por exemplo, para
relembrar o algoritmo da divisão.
O caso foi diagnosticado por Cláudio
Guimarães, professor do curso de pós-graduação em psiquiatria da Faculdade
de Medicina da USP. Para o diagnóstico,
foi utilizado um teste neuropsicológico
(das habilidades mentais) criado por ele.
Segundo Guimarães, o teste, chamado
de SP-MAT, é o primeiro do gênero no
país. O trabalho foi apresentado em 1996
no 18º Congresso Anual da Sociedade de
Ciência Cognitiva, nos EUA.
"A presença de distúrbios específicos
de cálculo não é normalmente avaliada
em testes aplicados em pacientes com lesão cerebral. Mas a discalculia é bastante
comum, pois está frequentemente associada a outros tipos de lesão cerebral. É
um distúrbio que tem tratamento", diz.
A memória, principalmente aquela
que lida com imagens mentais (processamento visual e espacial), está intimamente ligada à capacidade de realizar
cálculos. Para executar uma adição mental é necessária a construção de uma representação interna dos números que
estão sendo somados, do "vai um" e do
resultado de cada soma parcial.
Um bom parâmetro para saber o nível
de dificuldade de uma operação matemática é observar a quantidade de espaço no papel que ela ocupa. "Com base
nisso, chega-se a uma linha crescente de
dificuldade: subtração, adição, divisão e
multiplicação", afirma Guimarães.
Isso foi verificado em A.A., que cometeu mais erros de multiplicação (47%) e
divisão (33%) do que de adição (15%) e
subtração (12%) na resolução do teste.
Além disso, quanto maior o número de
linhas e colunas envolvidas na operação
matemática, maior a frequência de erros.
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