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CIÊNCIA INÚTIL
Prêmio para pesquisas "que não deveriam ser reproduzidas" também contemplou a física da dança havaiana
Karaokê e flatulência de arenque ganham o Ig Nobel
DA REDAÇÃO
O inventor do karaokê, um estudo rigorosamente controlado
mostrando a influência da música
country nos índices de suicídio
nos EUA e duas pesquisas independentes que afirmam que os
arenques se comunicam por meio
de flatulências ganharam ontem o
Ig Nobel, o Nobel da ciência inútil.
O prêmio é concedido todos os
anos na semana que antecede o
Nobel de verdade pelos editores
da revista humorística norte-americana "Anais da Pesquisa
Improvável", para pesquisas "que
não poderiam ou não deveriam
ser reproduzidas".
A cerimônia de entrega dos lauréis aconteceu no vetusto Teatro
Sanders, da Universidade Harvard, em Cambridge, e contou
com a presença de cientistas ganhadores do Nobel real, além de
uma chuva de aviões de papel.
Os "Ig Nóbeis" saíram do Japão,
Canadá, Reino Unido, da Dinamarca, da Suécia e de várias partes dos EUA para a cerimônia. Por
incrível que pareça, eles não se
sentem ridicularizados.
"Eu me sinto muito honrado!",
disse à Folha, por e-mail (o ponto
de exclamação é dele), o biólogo
dinamarquês Magnus Wahlberg,
da Universidade de Aarhus. Ele
foi laureado em Biologia, juntamente com colegas da Suécia, da
Escócia e do Canadá, por mostrar
-em estudos realizados independentemente- que os arenques se comunicam por... puns.
Apesar de se deliciar com a galhofa, Wahlberg conta que a razão
inicial do estudo foi séria. Ele e o
colega sueco Hakan Westerberg
estavam trabalhando com a Marinha da Suécia para tentar achar
explicações alternativas para um
conjunto de sons que os militares
acreditavam vir de submarinos
russos em águas suecas.
"Acontece que os sons eram flatulências de arenques", diz Wahlberg. "O trabalho foi relatado em
1998, mas nós só o publicamos no
ano passado. Por coincidência, foi
a mesma época em que [o canadense Ben] Wilson e colegas fizeram descoberta semelhante."
Assim como o Nobel, que às vezes demora anos ou décadas, o Ig
Nobel pode vir atrasado. Dois
cientistas sociais dos EUA levam
o prêmio na categoria Medicina
por um trabalho publicado em
1992: um artigo na revista "Social
Forces" intitulado "O Efeito da
Música Country no Suicídio."
Jim Gundlach, da Universidade
de Auburn (Alabama), que assina
o trabalho juntamente com Steven Stack, da Universidade Estadual Wayne (Michigan), conta
que tudo começou num curso
que ele dava de pós-graduação
em estatísticas sociais.
"Nós estávamos trabalhando
com dados de suicídio nos EUA e
a cidade com maior diferença entre a taxa prevista e a observada
era Nashville, no Tennessee. Já
que Nashville é conhecida como a
capital da música country, todo
mundo em classe pensou: "Música country'", disse. "Nosso modelo explica 51% da variância nas taxas de suicídio entre brancos."
Não é que Garth Brooks -ou
Zezé Di Camargo e Luciano- seja capaz, em si, de induzir ao suicídio. Trata-se, segundo Gundlach,
de uma questão estatística, e ligada a uma "subcultura country", e
seu apelo a pessoas em risco.
"Publicamos um estudo mostrando o mesmo efeito com heavy
metal", diz Gundlach.
(CA)
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