São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2011

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Químico da Unicamp acusado de fraude é suspenso por 45 dias

Cientista teria sido negligente ao não ver manipulação de dados

REINALDO JOSÉ LOPES

EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) decidiu punir com 45 dias de suspensão um de seus professores, o químico Claudio Airoldi, acusado de fraudar 11 artigos científicos junto com outros pesquisadores.
A decisão veio após a criação de uma comissão de sindicância e de um processo administrativo contra o pesquisador, concluído neste mês. A acusação de fraude foi revelada pela Folha em reportagem de março deste ano.
Em nota, a Unicamp cita o relatório final da comissão que conduziu o processo para justificar a punição.
Segundo o relatório, "o indiciado agiu com culpa na modalidade de negligência ao permitir que artigos usando técnicas alheias ao seu conhecimento científico fossem incluídas nas publicações, sem a devida análise de sua procedência".
Segundo a comissão, a negligência teria violado o estatuto da universidade.

EM VIAGEM
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Unicamp disse que não faria outros comentários sobre o caso. Ao ligar para a casa de Airoldi, a reportagem foi informada de que ele estaria viajando. Um pedido de entrevista por e-mail não foi respondido até o fechamento desta edição.
Os artigos que teriam sido fraudados pela equipe do químico foram "retratados" (ou seja, despublicados e considerados sem validade) pela editora internacional Elsevier, responsável pela publicação de grande número de revistas científicas.
Na época, a editora afirmou ter conduzido seu próprio processo de investigação, tocado por três cientistas independentes. Segundo a Elsevier, os indícios de fraude seriam "conclusivos".
Detalhes técnicos suspeitos teriam sido a chave para flagrar a manipulação de dados. Ocorre que os trabalhos investigados envolvem imagens de ressonância magnética, usadas para estudar as características de certos compostos químicos.
Essas imagens também têm uma parte que é ruído -mais ou menos como o chiado de um rádio ou de uma televisão mal sintonizados.
Segundo os especialistas independentes, justamente esse ruído -que é aleatório e não deveria se repetir- aparecia de forma quase idêntica nos vários estudos, sinal de quem teriam sido "copiados e colados" de forma fraudulenta pelos cientistas.
Airoldi e seu principal parceiro nos artigos retratados, Denis Guerra, da Universidade Federal de Mato Grosso, nunca admitiram terem manipulado intencionalmente os dados de suas pesquisas.
Guerra, que não foi localizado pela reportagem ontem, disse anteriormente à Folha: "Um pesquisador da Unicamp ou da USP não tem a menor necessidade de fraudar dados. Ainda mais um pesquisador como o Airoldi, com 40 anos de carreira".
Em entrevista à edição do mês passado da revista "Piauí", Airoldi afirmou: "Esses artigos eu nem li. Guerra fez e mandou, e quando vi já estavam publicados. Tenho plena certeza de que não participei dessa fraude".
É provável que o fato de ter assinado os artigos mesmo sem lê-los antes esteja por trás do veredicto de "negligência" e não culpa direta dado pela Unicamp.


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