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Para Mello, julgamento desta semana é o "mais importante" da história do STF
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) que decidirá sobre o destino no país de
pesquisas com células-tronco
de embriões humanos será o
mais importante dos 180 anos
de história da corte, segundo
Celso de Mello, o mais antigo
dos 11 ministros, e Carlos Ayres
Britto, o relator da ação.
"Esse é o processo mais importante em toda a história do
tribunal, porque envolve o direito à vida. Não cometo nenhum exagero ao afirmar isso",
disse Mello à Folha. Ayres
Britto concorda, mas aponta
outro motivo. "A ação põe Igreja Católica e ciência em posições antagônicas."
Trata-se de uma ação direta
de inconstitucionalidade movida pelo ex-procurador-geral da
República Claudio Fonteles
contra a Lei de Biossegurança
(nº 11.105), de três anos atrás.
A decisão é considerada estratégica tanto pela Igreja Católica quanto pela comunidade
científica. Em abril de 2007,
Britto realizou uma audiência
pública sobre o tema, a primeira na história do STF.
A CNBB vê nessa causa o risco de o STF abrir caminho para
que no futuro novas formas de
aborto sejam criadas -ou que o
próprio aborto seja legalizado.
Isso porque, para extrair células-tronco embrionárias, é
necessário destruir os blastocistos, embriões humanos com
cerca de cinco dias de vida e
formados por uma centena de
células. Os católicos não enxergam diferença entre um blastocisto e um feto ou um ser humano adulto. Para eles, todos
são "pessoas humanas" com direito inviolável à vida.
A CNBB vai além: "A manipulação e sacrifício de seres
humanos embrionários são o
primeiro grande passo para a
clonagem e produção laboratoriais de seres humanos descartáveis, tema que os filmes de
ficção científica já começam a
explorar", diz, em memorial
entregue aos ministros.
"Tenho certeza que essa Lei
da Biossegurança abre caminho para a legalização progressiva do aborto e o desrespeito
da vida humana. Tudo começa
nessa primeira transigência,
que significaria abrir as portas
para outras formas de manipulação da vida humana nascente", disse na sexta-feira dom
Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da CNBB.
Já os cientistas dizem que,
sem pesquisar células-tronco
de embriões, o Brasil ficará a
reboque de outros países e terá
de pagar royalties altíssimos
para aqueles que descobrirem
a cura de doenças graves.
A Conectas Direitos Humanos, uma das organizações
não-governamentais que
atuam na ação em defesa da
pesquisa, sustenta que há 19
teorias sobre o momento do
início da vida, que variam da
concepção ao parto. Tamanha
divergência abriria brecha para
o surgimento de convicções de
ordem religiosa.
"Nem a ciência nem a religião foram capazes de oferecer
um critério único para estabelecer quando a vida começa e,
em um Estado laico, a interpretação constitucional não pode
ser subordinada por dogmas de
fé", diz a Conectas.
O advogado Luís Roberto
Barroso, em nome da Movitae
(Movimento em Prol da Vida),
outra ONG que atua na mesma
linha, traçou outra estratégia:
tentará evitar que a polêmica
fique em torno do início da vida
para tentar desvincular esse
julgamento do tema aborto.
"Um embrião que não possa
ser implantado em um útero
materno não pode ser considerado uma vida potencial. Portanto, a questão do momento
do início da vida não se coloca
aqui e constitui um falso problema", afirmou.
A questão a ser decidida é
moral, segundo a pesquisadora
Lygia Pereira, da USP, favorável ao uso das células-tronco
embrionária em pesquisas.
"Não vou dizer que aquele
embrião não é uma forma de
vida humana; ele é, sim. Agora,
um feto que resulta de estupro
também é uma forma de vida
humana, que a nossa lei deixa
ser violada. Então é uma questão de a gente decidir se esse
embrião, nas condições da Lei
de Biossegurança, é uma forma
de vida inviolável."
(SF e JN)
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