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Calor faz aumentar "deserto marinho"
Nos últimos 50 anos, houve uma ampliação expressiva das zonas com pouco oxigênio, principalmente na faixa tropical
No Atlântico, entre 1960 e 2006, camada de água sem gás vital aumentou 85%; fenômeno também foi identificado no Pacífico
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Oxigênio é sinônimo de vida
até mesmo embaixo d'água. Por
isso, a identificação de cinco
zonas oceânicas com pouca
quantidade desse gás, principalmente na faixa tropical do
planeta, desvenda mais um elo
que une o aquecimento global
ao desequilíbrio ecológico.
Em estudo publicado hoje na
revista "Science", os cientistas
mostram como áreas pobres
em oxigênio, numa faixa que
varia de 300 metros a 700 metros de profundidade, sofreram
uma expansão vertical expressiva nos últimos 50 anos.
Somados, esses verdadeiros
desertos oceânicos juntos representam uma área de aproximadamente mais de 1 milhão
de quilômetros quadrados
-um quinto da Amazônia.
O caso mais grave, segundo
Lothar Stramma, autor principal do estudo e pesquisador da
Universidade de Kiel, na Alemanha, é o do Atlântico tropical. Entre 1960 e 2006, nessa
região, a camada de água com
pouco oxigênio aumentou 85%.
Se nos anos 1960 ela tinha
370 metros de espessura, há
dois anos ela cresceu para 690
metros. Todas as alterações do
nível de oxigênio foram identificadas em zonas mais fundas, e
não perto da superfície do mar.
"Existe uma grande chance
de essa expansão [das zonas
mortas] estar relacionada com
as mudanças climáticas", afirma Stramma à Folha. "Os modelos [matemáticos] apontam
para isso", diz. A confirmação
virá nos próximos anos, explica
o pesquisador. "Já começamos
novos estudos."
O período analisado pelo
grupo de alemães e norte-americanos coincide com um aquecimento médio substancial dos
oceanos. Resumidamente, com
mais calor no sistema, a absorção de oxigênio pelos oceanos a
partir da atmosfera fica prejudicada. "A redução dos níveis
de oxigênio pode ter conseqüências dramáticas para os
ecossistemas e as economias
costeiras", avalia o pesquisador
da Alemanha.
De acordo com Stramma,
além do Atlântico, outras expansões verticais importantes
das áreas com pouco oxigênio
ocorreram na zona equatorial
do oceano Pacífico.
"A nossa série de dados mostra que o declínio na concentração de oxigênio tem sido
mais intenso no oceano Atlântico", explica o pesquisador.
O problema, segundo ele, é
que nessa região as áreas mortas ainda são menores que as
do Pacífico. "O que significa
que existe um potencial maior
de crescimento das zonas sem
oxigênio para os próximos anos
no Atlântico."
Ventos fracos
Além do oxigênio, os organismos marinhos podem ficar
também sem nutrientes, em algumas regiões, por causa do
aquecimento global.
Outros estudos já publicados
recentemente dão conta de que
a mudança no padrão de distribuição dos ventos, associada ao
aquecimento da atmosfera, está influenciado a vida dos microrganismos marinhos.
Isso ocorreu, por exemplo,
na Costa Oeste dos Estados
Unidos. Um simples atraso na
chegada dos ventos da primavera, de 40 dias, alterou totalmente a disponibilidade de nutrientes, por exemplo, para alguns grupos de invertebrados.
A quantidade de moluscos
capturados em áreas do litoral
da Califórnia, por exemplo, durante um evento desses registrado em 2005, caiu 83%.
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