São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2010

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Óleo é "pior que furacão", diz pescadora

Indústria da pesca da Louisiana, que ainda se recuperava do Katrina, vai à lona com vazamento no golfo

Comerciantes que não fecharam as portas têm de buscar camarão no Texas; temporada de furacões amplia tensão


SeanGardner - 31.mai.10/Reuters
Protesto na Louisiana lista coisas "perdidas graças à BP e ao governo", como o peixe vermelho e pesca de caranguejo

CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL À LOUISIANA

No auge da temporada de pesca de camarões que deveria ser a melhor dos últimos anos, a maioria dos comerciantes do sul da Louisiana fechou as portas. Os que resistiram reclamam do movimento baixo e da desconfiança dos consumidores.
Para os moradores de uma das regiões mais atingidas pelo pior vazamento de petróleo na história dos EUA, a recuperação será ainda mais lenta e difícil do que as que sucederam os furacões que por lá passaram.
"Definitivamente, isso é muito pior. Levaremos muito mais tempo para voltar ao normal", afirmou à Folha Carol Terrebonne, 60, matriarca de uma família de pescadores e comerciantes da comunidade de Lafourche.
Terrebonne conta que perdeu uma de suas bases -onde ancora os barcos, produz gelo, armazena e comercializa camarões e caranguejos- na passagem do Katrina, em 2005. Em 2008, o Gustav destruiu a sua segunda loja.
"Eu havia acabado de reabrir, coloquei todo o nosso dinheiro aqui. E agora não sei em quanto tempo poderemos nos recuperar."
Ela insiste em manter o comércio aberto. Compra camarões no vizinho Estado do Texas, por ora menos atingido pelo desastre, mas os clientes perguntam se o produto está sujo de petróleo. No feriado de anteontem, o Memorial Day, diz que vendeu um vigésimo do que na mesma data, no ano passado.
A British Petroleum (BP), responsável pelo vazamento no golfo do México que se estende desde o dia 20 de abril, já pagou US$ 5.000 a Terrebonne, que diz que a quantia não é suficiente nem para pagar a conta de luz.
A indignação contra a BP é compartilhada pela maior parte dos moradores, que espalharam placas contra a petroleira ao longo da estrada que leva à esvaziada Grand Isle, uma das praias atingidas pelo óleo.
Para agravar o cenário, começou ontem a temporada de furacões, que se estende até novembro. No caso de a região ser atingida, os barcos que trabalham na limpeza e contenção do desastre teriam que se retirar do mar, e os efeitos do mau tempo nos milhões de litros espalhados pelo mar são imprevisíveis.

MÁ, MAS ESFORÇADA
Mas, apesar de os locais reclamarem da ajuda financeira insuficiente, todos aqueles com quem a Folha conversou admitiram que a BP está fazendo "todo o possível" para reverter o desastre.
A BP diz ter 18 escritórios instalados na região do golfo para receber as reclamações de quem se sentir prejudicado pelo acidente, além de 1.100 barcos trabalhando na retirada do óleo que vazou.
Mesmo assim, os moradores da Louisiana se sentem "desencorajados", nas palavras de Carol Terrebonne.
O desânimo da comunidade já foi captado pelas igrejas locais, que anunciam grupos de apoio e transformam o acidente em tema de missas.
"Rezemos todos juntos pelo desastre do vazamento de petróleo", convidava o letreiro da igreja católica Nossa Senhora da Ilha ("Our Lady of the Isle"), em Grand Isle.


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