São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004 |
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ESPAÇO Sonda americana faz aproximação máxima do 6º planeta e se torna o primeiro artefato humano a orbitar o astro Cassini revela ondas nos anéis de Saturno
SALVADOR NOGUEIRA DA REPORTAGEM LOCAL A sorte de fato favorece os bravos. Após uma arriscada travessia dos anéis de Saturno, a sonda Cassini fez história ao se tornar, na madrugada de ontem, o primeiro artefato humano a entrar em órbita ao redor daquele planeta. E foi logo confirmando um velho palpite dos cientistas -o de que os anéis podem ter ondas. "A imagem da divisão Encke [um dos vãos entre os anéis], com a borda interna ondulada, é espantosa", diz John Spencer, cientista do Southwest Research Institute envolvido com um dos instrumentos da sonda. "As fotos são incríveis -são muito melhores que as das Voyagers, de 23 anos atrás, e mostram fenômenos que nunca tínhamos visto antes." A passagem pelo planeta durante a inserção orbital, na madrugada de ontem, foi a que levou a sonda para mais perto do astro. Na aproximação máxima, a distância até Saturno era de 20 mil quilômetros -um quinto da separação mínima entre a Voyager-2 e o planeta, em 1981. A maior proximidade se revelou no estudo dos anéis. "Eu vi a moçada comentar bastante a existência de "ondas de densidade" no plano dos anéis", diz Cássio Leandro Barbosa, astrônomo da USP. "Só havia previsões da existência delas -até hoje de manhã. Esse é um fenômeno que pode ocorrer em discos, desde que haja uma perturbação gravitacional." Segundo o cientista brasileiro, o mesmo processo também influencia a evolução de galáxias, objetos muito maiores, compostos por grandes conjuntos de estrelas. "Essas ondas de densidade ocorrem em escala galáctica e são responsáveis pela formação de braços espirais", afirma. As primeiras imagens divulgadas ainda são cruas -ou seja, não sofreram o processamento adequado para a extração dos melhores dados científicos. No caso de Spencer, que trabalha com o Cirs, um sensor de infravermelho, o melhor ainda está por vir. "Ainda não pusemos as mãos em nenhum dado calibrado do Cirs, que analisou a radiação de calor dos anéis enquanto a câmera ISS tirava as incríveis imagens que agora foram divulgadas", diz. "Nossos dados não são tão glamurosos quanto as imagens da câmera, mas no final vão fornecer informações sobre o tamanho e a rotação das partículas dos anéis." Hoje, a Cassini continuará empolgando os cientistas, com o primeiro sobrevôo da maior lua do sistema saturnino, Titã. Próximo Texto: Tripulação da ISS conclui reparo de estação espacial Índice |
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