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PALEONTOLOGIA
Achado do Quênia pode ser Homo erectus
Crânio africano de 1 milhão de anos agrava confusão sobre hominídeos
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Era baixinho. Ou baixinha. Não
se sabe o sexo, mas o pequeno indivíduo de 930 mil anos de idade
achado no Quênia (leste da África) criou uma confusão federal na
evolução do ser humano. Se até
hoje o problema de interpretar a
evolução humana era uma questão de classificar diferentes espécies de "hominídeos" -os homens pré-históricos-, agora
uma mesma espécie pode ter uma
variação de tamanho bem maior
do que se suspeitava.
O ser humano é classificado pela ciência no gênero Homo, espécie sapiens. Mas qual teriam sido
os ancestrais do Homo sapiens na
evolução biológica? Não há resposta consensual, especialmente
quando se trata de entender os
primos mais próximos do Homo.
O homem surgiu na África, concordam quase todos os cientistas.
Mas há uma falha no registro fóssil. No período de 1 milhão a 500
mil anos atrás, há bons fósseis na
Europa e na Ásia. Mas há poucos
no continente de origem.
É por isso que a nova descoberta
é particularmente importante. Ela
foi feita pela equipe de Richard
Potts, da Instituição Smithsonian,
dos EUA, e sai hoje na revista
científica americana "Science"
(www.sciencemag.org). O achado ocorreu em um sítio paleontológico onde havia um bom número de ferramentas de pedra, normalmente associadas a indivíduos mais robustos.
A descoberta lança lenha na fogueira tradicional: havia uma espécie básica de humano primitivo, o Homo erectus, ou várias? A
falta de bons fósseis africanos torna mais difícil entender e classificar fósseis possivelmente da mesma espécie ou de espécies próximas da China e da Indonésia.
"Eu acho que o Homo erectus
existiu em tamanhos bem variados, mas que também desenvolveu combinações estranhas e intrigantes de traços físicos entre
grupos bem separados", resume o
principal autor, Potts.
O crânio de Olorgesailie é diferente do padrão do Homo erectus
achado na China e na Indonésia.
Seria uma nova espécie ou um
"experimento" evolutivo de curta
duração? Não se sabe, mas Potts
aposta na segunda hipótese.
"O fóssil faz parte de uma grande variação física nos crânios de
hominídeos entre 1,7 milhão e 0,5
milhão de anos atrás. Essa variação torna difícil classificar o fóssil
de Olorgesailie em uma espécie,
mas sugere que o processo evolutivo envolveu um bocado de mistura de traços enquanto as populações se disseminavam, ficavam
isoladas por um período e depois
voltavam a entrar em contato
com outros grupos."
A descoberta foi comentada na
"Science" por Jeffrey Schwartz ,
da Universidade de Pittsburgh,
EUA. "Não é Homo erectus. Ninguém sabe o que é. Se é pequeno,
bem, eu também sou", disse
Schwartz à Folha.
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