São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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PALEONTOLOGIA

Achado do Quênia pode ser Homo erectus

Crânio africano de 1 milhão de anos agrava confusão sobre hominídeos

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Era baixinho. Ou baixinha. Não se sabe o sexo, mas o pequeno indivíduo de 930 mil anos de idade achado no Quênia (leste da África) criou uma confusão federal na evolução do ser humano. Se até hoje o problema de interpretar a evolução humana era uma questão de classificar diferentes espécies de "hominídeos" -os homens pré-históricos-, agora uma mesma espécie pode ter uma variação de tamanho bem maior do que se suspeitava.
O ser humano é classificado pela ciência no gênero Homo, espécie sapiens. Mas qual teriam sido os ancestrais do Homo sapiens na evolução biológica? Não há resposta consensual, especialmente quando se trata de entender os primos mais próximos do Homo.
O homem surgiu na África, concordam quase todos os cientistas. Mas há uma falha no registro fóssil. No período de 1 milhão a 500 mil anos atrás, há bons fósseis na Europa e na Ásia. Mas há poucos no continente de origem.
É por isso que a nova descoberta é particularmente importante. Ela foi feita pela equipe de Richard Potts, da Instituição Smithsonian, dos EUA, e sai hoje na revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org). O achado ocorreu em um sítio paleontológico onde havia um bom número de ferramentas de pedra, normalmente associadas a indivíduos mais robustos.
A descoberta lança lenha na fogueira tradicional: havia uma espécie básica de humano primitivo, o Homo erectus, ou várias? A falta de bons fósseis africanos torna mais difícil entender e classificar fósseis possivelmente da mesma espécie ou de espécies próximas da China e da Indonésia.
"Eu acho que o Homo erectus existiu em tamanhos bem variados, mas que também desenvolveu combinações estranhas e intrigantes de traços físicos entre grupos bem separados", resume o principal autor, Potts.
O crânio de Olorgesailie é diferente do padrão do Homo erectus achado na China e na Indonésia. Seria uma nova espécie ou um "experimento" evolutivo de curta duração? Não se sabe, mas Potts aposta na segunda hipótese.
"O fóssil faz parte de uma grande variação física nos crânios de hominídeos entre 1,7 milhão e 0,5 milhão de anos atrás. Essa variação torna difícil classificar o fóssil de Olorgesailie em uma espécie, mas sugere que o processo evolutivo envolveu um bocado de mistura de traços enquanto as populações se disseminavam, ficavam isoladas por um período e depois voltavam a entrar em contato com outros grupos."
A descoberta foi comentada na "Science" por Jeffrey Schwartz , da Universidade de Pittsburgh, EUA. "Não é Homo erectus. Ninguém sabe o que é. Se é pequeno, bem, eu também sou", disse Schwartz à Folha.


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