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Geólogo data nascimento do Amazonas
Estudo indica que maior rio do mundo surgiu há 11,8 milhões de anos; queda do nível do mar e subida dos Andes são os "pais"
Amostras de sedimento
antigo acumulado no mar
deram pistas sobre biografia
do curso d'água a brasileiro
que trabalha no Reino Unido
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O rio Amazonas acaba de ganhar uma certidão de nascimento. Segundo ela, o curso
d'água mais volumoso da Terra
nasceu há 11,8 milhões de anos.
A adolescência e a fase adulta
do rio-mar também estão descritas no estudo, publicado no
periódico "Geology". Ele é assinado por Jorge Figueiredo,
geólogo da Petrobras que atualmente cursa doutorado na Universidade de Liverpool (Reino
Unido) e colaboradores.
Toda a história de vida do
Amazonas está baseada em
análises paleontológicas (fósseis de animais e pólen) e de
proveniência sedimentar, feitas em amostras coletadas em
poços perfurados no oceano
Atlântico, na foz do rio.
De acordo com Figueiredo,
existia um pequeno rio antes de
11,8 milhões de anos, no período chamado pelos geólogos de
Mioceno Médio (Na África,
nessa época, o gênero humano
nem existia). Mas ele drenava
apenas a parte oriental da atual
região amazônica.
Do lado ocidental, onde hoje
estão o Peru, a Colômbia e os
Estados do Amazonas e do
Acre, havia um tipo de pantanal, uma grande área inundada.
"Separando essas duas áreas
existia uma região um pouco
mais elevada que as grandes
planícies amazônicas, a oeste
de Manaus", diz Figueiredo.
A situação, entretanto, começaria a mudar há 11,8 milhões de anos, diz o geólogo. De
um lado, por causa do aumento
do manto de gelo na Antártida,
o mar começou a descer -uma
queda de cerca de 120 metros
em média em relação ao nível
atual. De outro, a poderosa cordilheira dos Andes exibia quase
toda sua força, elevando-se a alturas próximas das atuais.
Esses dois processos, que terminaram há aproximadamente
11,3 milhões de anos, fizeram
com que os lagos do lado oeste
fossem conectados ao riozinho
do lado leste. O Amazonas, agora transcontinental, estava
pronto para crescer e aparecer.
Na infância do rio, entre 11,8
milhões e 6,8 milhões de anos,
ainda havia um número muito
grande de lagos ao longo do
Amazonas, cujo curso era sinuoso, como o de vários rios pequenos da região hoje. Os sedimentos carregados pelas águas
do rio acabavam sendo depositados no continente.
Na sua adolescência, como os
Andes subiram ainda mais, havia mais sedimento para ser
transportado. E eles começaram a chegar em maior quantidade ao oceano, obliterando os
lagos no caminho.
Há 2,4 milhões de anos o
Amazonas entrou na fase adulta. O riacho cheio de meandros
de outrora tornou-se o rio mais
caudaloso do mundo.
Cálculos do projeto Piatam
(Petrobras) mostram que o rio
lança todos os anos no Atlântico 6,3 trilhões de metros cúbicos de água (16% de toda a descarga mundial de água doce no
mar) e 1,2 bilhão de toneladas
de sedimento. É tanto entulho
que a foz do Amazonas pode até
estar afundando poucos milímetros por ano.
"Era sabido que a evolução
do Amazonas dependeu do tectonismo [elevação] dos Andes.
O artigo científico, entretanto,
apresenta uma idade mais fechada [para o nascimento do
rio]", diz Michel Mahiques,
professor do Instituto Oceanográfico da USP e especialista
em oceanografia geológica.
Segundo Figueiredo, os dados atuais estão em desacordo
com uma hipótese levantada
por outro grupo de pesquisa -a
de que o rio Amazonas, há 5 milhões de anos, corria ao contrário, do Atlântico para aquilo
que começava a ser os Andes.
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