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Estresse conduz a ações automáticas, diz estudo
Efeito se deve a expansão de área neural ligada a comportamentos rotineiros
Neurocientista português
que liderou a pesquisa diz
que proteção do cérebro
pode explicar o fenômeno, que foi descoberto em ratos
RICARDO MIOTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A rotina leva ao estresse, mas
os cientistas descobriram agora
que o estresse também leva à
incapacidade de sair da rotina.
Eles estressaram ratos de laboratório e, posteriormente, avaliaram a sua capacidade de
abandonar velhos hábitos. É
possível estender as conclusões
para humanos, dizem.
É uma maneira de o cérebro
se proteger. "Uma pessoa estressada vai colapsar se tiver
que prestar atenção em mais
coisas. Pode ser uma adaptação
passar a fazer tudo automaticamente, sem pensar", diz Rui
Costa, neurocientista dos Institutos Nacionais de Saúde dos
EUA. O estudo saiu anteontem
na revista "Science".
A ideia é que, quando estamos fazendo algo novo -ainda
que banal, como apertar o nosso andar no elevador pela primeira vez após a mudança-,
temos que refletir sobre o ato.
Qual andar? Em que lado fica o
painel com os botões?
Mas, com o hábito, passamos
a fazer essas coisas sem pensar.
"Imagine dirigir do trabalho
pra casa. Vamos automaticamente. Quantas vezes queríamos parar no supermercado
mas, quando vemos, já estamos
em casa?", diz Costa. A rotina
poupa o esforço de pensar.
É possível dizer que os pesquisadores "explicaram" as
avenidas cronicamente congestionadas, como a Rebouças,
em São Paulo. O trânsito estressa as pessoas, que, num ato
automático, deixam de tentar
caminhos novos. Continuam
voltando para casa pela Rebouças, realimentando o estresse.
Os pesquisadores passaram
21 dias estressando um grupo
de ratos machos. Diariamente,
cada um era colocado na gaiola
de outro macho, com ele lá dentro. Antes disso, a fêmea desse
rato dono do pedaço havia sido
retirada de lá.
Ou seja, o rato morador da
gaiola estava furioso, era agressivo. O novato, em território estranho, ficava com medo e, em
poucos minutos, estava tenso e
submisso. Os animais também
eram forçados a nadar, para
misturar componentes psicológicos e físicos do estresse.
Após isso, tanto esse grupo
estressado quando um outro
grupo de ratos, calmos e de bem
com a vida, foram condicionados para apertar uma alavanca
em troca de comida.
Depois que aprendiam, a alavanca não fazia mais diferença.
A comida vinha aleatoriamente. Mas os ratos estressados - e
só eles - seguiam apertando a
alavanca insistentemente.
Ao mesmo tempo, os cientistas observaram o cérebro dos
ratos através de fMRI (Imageamento por Ressonância Magnética Funcional, em inglês).
Conclusão: o estresse expande uma área neural, em detrimento de outras, relacionada
ao comportamento rotineiro e
automático - o estriado dorsolateral. O objetivo agora é saber
como isso acontece.
"Queremos agora saber quais
são as bases moleculares desse
efeito. Se tivermos sucesso, no
futuro pode-se tentar até desenvolver um fármaco para
bloquear isso", diz Costa.
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