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São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2003

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AMAZÔNIA

Para arqueólogo da USP, sedimentação irregular pode forçar revisão

Brasileiro considera estudo relevante

Marc Salak e Rolf Aalto/Divulgação
Aalto sobre rachaduras em depósito boliviano de sedimentos


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A pesquisa da equipe do geomorfólogo Rolf Aalto, sobre a relação entre sedimentação irregular nos rios Beni e Mamoré e o efeito conhecido como "La Niña", pode, pelo menos na região, forçar a revisão da maneira como são feitos estudos de sedimentos com fins arqueológicos, afirma um especialista em geologia e arqueologia da USP.
Segundo Luiz Fernando Erig Lima, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP), o estudo de Aalto é uma contribuição interessante. "De qualquer forma, é importante que se testem esses modelos e que os dados sejam cruzados com os de outros grupos, mas o estudo é vital para a sedimentologia, principalmente na região, que sofre enorme influência do que acontece no litoral do Peru", diz Lima, 29.
De acordo com o pesquisador, não é a primeira vez que se estuda a relação entre sedimentação e fenômenos como "El Niño" e "La Niña". "Já vi artigos que tentam associar esses eventos com sedimentação irregular, mas muitos na base do "achômetro". Alguns na comunidade concordam com essas idéias, outros nem tanto. De qualquer forma, essa pesquisa é uma das únicas vezes em que vejo isso de forma bem embasada, com muitos dados brutos."
Lima cita como exemplos de tentativas de fazer essa relação alguns estudos na Antártida, feitos sobre sedimentação em gelo, e uma série de escavações no norte do Peru sobre a extinta civilização Mochica, que sobreviveu até o século 12 d.C. e sofreu com os efeitos da desertificação causados pelo "El Niño".

Fator humano
Lima tem, no entanto, ressalvas ao texto de Aalto na revista "Nature". "O artigo diz que, na região, "várzeas e canais são primitivos" e que não havia aterros e áreas de barragem. Dizer que a área é primitiva, intocada, me parece estranho. Trabalho em área amazônica e ela vem sendo modificada há muito tempo pelos índios, era comum haver essas construções. Havia muita gente naquela região antes do Descobrimento."
Segundo Lima, se o grupo de Rolf partiu dessa premissa de "Amazônia intocada", pode haver uma interferência do fator humano nos dados da pesquisa. "A irregularidade na sedimentação medida por eles pode muito bem ser de origem antropogênica, e não fruto desses fenômenos climáticos citados."


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