São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

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GEOLOGIA

Fósseis seriam de micróbios fotossintetizantes

Rocha sul-africana tem evidência de ser vivo com 3,4 bilhões de anos

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A existência da vida na Terra há 3,4 bilhões de anos ganhou novas evidências, que não só tendem a pôr de lado contestações anteriores, como também dão novas pistas de como eram os prováveis ancestrais de todos seres vivos.
Especulava-se que a vida já estivesse presente no planeta então graças ao estudo de rochas da Austrália, que tinham estruturas que pareciam ser de microfósseis -restos de antigos micróbios.
Mas alguns cientistas sugeriram outra explicação para esses restos nas rochas: seriam evidência de algo anterior à vida, prova de reações químicas que, sabe-se lá, seriam precursoras do que se conhece como tal. Mas que ainda não eram vida propriamente.
Para haver vida, é preciso que um ser tenha metabolismo e seja capaz de existir isolado do ambiente, de crescer e de se replicar.
As duas teorias eram excludentes. Ou haveria apenas uma primitiva sopa de substâncias, ou já havia modernos micróbios, na forma de bactérias capazes de produzir oxigênio pelo mesmo processo que as plantas, a fotossíntese (uso da energia do Sol -da luz solar- pelas células para suprir suas necessidades).
Michael M. Tice, da Universidade Stanford, Califórnia (oeste dos EUA), e Nicholas Beukes, da Universidade Rand Afrikaans (África do Sul), relataram na revista científica britânica "Nature" (www.nature.com) uma idéia alternativa.
Eles estudaram rochas sul-africanas tão antigas quanto as australianas. Mostraram provas de que a matéria orgânica ali presente é de origem biológica. Com uma diferença importante: os antigos micróbios também faziam fotossíntese, mas não tinham o oxigênio como subproduto.
As rochas sedimentares estudadas não têm condição de preservar matéria orgânica, pois foram muito aquecidas no passado. Mas sobraram estruturas fossilizadas, cuja forma deu aos cientistas a pista de sua origem biológica.
Não é só a forma, mas também o modo como as estruturas estão distribuídas nas rochas, indicam vida. Os fósseis de micróbios formam camadas, "tapetes" sobre as rochas, alguns dos quais presentes apenas em profundidades nas quais a luz penetra, indicando existência de fotossíntese.
O estudo abre caminhos para estudos mais detalhados das condições da vida primitiva na Terra. Falta explicar melhor como surgiram seres fotossintetizantes produtores de oxigênio. Eles foram a condição para uma mudança radical na atmosfera, que permitiu surgirem seres que respiram esse gás -de micróbios a sapos, de dinossauros a seres humanos.


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