São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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Unicamp e Aché testam nova droga para diabetes

Empresa do setor farmacêutico banca projeto de R$ 2 milhões na universidade

Fármaco promissor pode ser primeiro capaz de melhorar a captação de glicose e de aumentar o nível de insulina no sangue ao mesmo tempo


Aché/Divulgação
Linha de produção em fábrica da Aché em Guarulhos (SP)


RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a Aché Laboratórios Farmacêuticos assinam hoje um convênio para desenvolver juntos uma nova droga contra diabetes tipo 2. Dentro de um tipo de parceria raro no Brasil, a empresa vai investir R$ 2 milhões para a etapa inicial de testes de um composto desenvolvido pelo Laboratório de Sinalização Celular da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
O medicamento em estudo, é um oligonucleotídeo (uma molécula de DNA alterada) capaz de bloquear a produção de uma proteína chamada PGC1-alfa, envolvida na regulação do metabolismo, o processamento de energia dentro das células.
"Esse desligamento melhora a captação de glicose, o que diminui o depósito de gordura no fígado" explicou à Folha Lício Velloso, da Unicamp, chefe do laboratório que desenvolveu a nova droga. "Ela também melhora um pouco a produção de insulina." A união dessas duas características em uma única droga, diz, Velloso, seria uma realização inédita na indústria farmacêutica.
Em geral, pacientes de diabetes tomam um coquetel com duas ou três drogas, e a redução do número de medicamentos pode abater o custo do tratamento. O oligonucleotídeo da Unicamp é um candidato a cobrir essa lacuna, se passar por uma longa bateria de testes.
Os cientistas da Unicamp já sabem que a droga deve ser eficaz porque a testaram em camundongos com diabetes, mas isso foi só o começo. "Ainda é preciso fazer testes de biodisponibilidade, para ter uma idéia sobre doses da droga, e de toxicologia", diz Lício. "Se correr tudo bem, deve levar entre três e cinco anos até a droga poder ser testada em humanos."
Caso o medicamento chegue a ir para a farmácia, a Aché poderá comercializá-la pagando royalties de 2,5% a 4% da receita líquida para a Unicamp, que detém a patente do oligonucleotídeo. Já durante os primeiros testes, a empresa paga taxas à universidade com valor definido em contrato. O investimento envolve risco, e pode ter uma injeção de mais R$ 2 milhões da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), se um pedido dos pesquisadores for acatado.
A parceria entre a universidade e o Aché foi articulada pela iniciativa do Instituto Uniemp, que promove a aproximação de acadêmicos e empresários da indústria. O contato foi facilitado porque a Unicamp possui uma agência para patentear e expor criações de seus cientistas.
"A gente está sempre procurando universidade para parcerias em projetos de inovação radical [busca de medicamentos com propriedades novas]", diz José Roberto Lazzarini, diretor científico da Aché. Segundo ele, a parceria com a universidade pode até mesmo continuar no futuro, durante as duas primeiras fases dos testes clínicos (em humanos).
Como o remédio tem potencial para comercialização internacional, pedidos de patente já foram depositados em outros países. Para facilitar a aprovação da droga, pode ser que a etapa clínica seja conduzida fora do Brasil.


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