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EUA se desculpam por estudo com sífilis
Nos anos 1940, cientistas do país infectaram sem consentimento prostitutas e doentes mentais na Guatemala
O presidente do país latino, Álvaro Colom, recebeu uma ligação de Barack Obama, que pediu perdão pelo caso
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
O governo dos EUA pediu
desculpas e abriu ontem uma
investigação sobre uma pesquisa que nos anos 1940 infectou de propósito com sífilis e gonorreia cerca de 1.500
pessoas na Guatemala.
Nenhum dos infectados
-a maior parte prostitutas,
soldados e doentes mentais- sabia dos propósitos
do estudo ou deu consentimento para os testes.
O médico John Cutler, funcionário do serviço de saúde
pública do governo americano, conduziu o trabalho entre 1946 e 1948 com financiamento Institutos Nacionais
de Saúde dos EUA (NIH).
O caso foi exposto por Susan Reverby, do Wellesley
College. Ela descobriu cartas
trocadas entre os pesquisadores e seus superiores, e publicará um artigo sobre isso
em janeiro de 2011 no "Journal of Policy Studies".
"Estamos escandalizadas
por saber que essa pesquisa
ocorreu sob o disfarce de
ação de saúde pública. O estudo foi antiético", disseram
em nota divulgada ontem as
secretárias de Estado dos
EUA, Hillary Clinton, e a da
Saúde, Kathleen Sebelius.
"Sentimos muito e pedimos desculpas a todos os infectados na pesquisa".
Barack Obama pediu desculpas pelo telefone diretamente ao presidente da Guatemala, Alvaro Colom.
VIOLAÇÃO TERRÍVEL
Cutler pretendia pesquisar
formas de prevenir doenças
sexualmente transmissíveis.
Ele infectou prostitutas
com gonorreia ou sífilis e deixou que fizessem sexo com
soldados e detentos.
Como poucos homens se
contaminaram, ele decidiu
inocular as doenças diretamente em soldados, prisioneiros e doentes mentais. As
formas de contágio iam de injeções a exposição do pênis a
material contaminado.
As cartas encontradas por
Reverby mostram que os pesquisadores sabiam que o estudo era antiético e que autoridades da Guatemala aprovaram a pesquisa.
Os arquivos indicam que
quase todos os que contraíram gonorreia e cancro mole
foram tratados. Mas muitos
dos que pegaram sífilis receberam tratamento parcial ou
nem foram tratados.
Não há dados suficientes
para saber se as prostitutas
receberam tratamento. Ao
menos 71 pessoas morreram,
mas não se sabe se por causa
da pesquisa.
"Regulamentos sobre pesquisas médicas em humanos
nos EUA hoje proíbem esse
tipo de violação terrível", disseram Hillary e Sebelius.
Elas afirmaram que será
feita uma investigação sobre
o caso e que especialistas internacionais farão um relatório sobre padrões éticos em
pesquisas médicas.
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