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Estudo diz por que orientais são "iguais"
Ocidentais têm essa impressão porque o cérebro humano "dá bug" ao tentar reconhecer faces de outra etnia
Para orientais, difícil é diferenciar os europeus; as bases biológicas dessa dificuldade ainda eram desconhecidas
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Não, os japoneses não são
todos iguais. O que acontece,
mostraram agora os cientistas, é que o "software" de reconhecimento facial do cérebro tem as suas limitações, e
uma delas é patinar sempre
que se depara com um rosto
de uma etnia diferente.
Os pesquisadores selecionaram mais de 20 voluntários, metade de Europa e metade da Ásia. Mostraram a
eles faces genéricas de orientais e ocidentais. Enquanto
isso, observavam a sua atividade cerebral.
Perceberam que os voluntários decoravam com facilidade rostos de gente da mesma etnia que eles. Mas quando um europeu começava a
observar faces orientais, logo
se perdia e já não sabia dizer
se um novo rosto era inédito
ou não -e vice-versa.
Ao observar o que estava
acontecendo no cérebro do
coitado do europeu, perdido
tentando lembrar se aquele
chinês não era o mesmo que
já tinha aparecido lá no começo, os cientistas notaram
um significativo aumento na
sua atividade neural.
É como se o cérebro do voluntário estivesse exigindo
mais do "processador", sendo forçado a trabalhar mais
para tentar encontrar alguma forma de conseguir reconhecer aquele sujeito na tela.
Fosse um computador, o cérebro estaria esquentando.
Com frequência, o esfoço extra acaba sendo em vão.
Esse fenômeno é perceptível especialmente em algumas áreas do cérebro ligadas
ao reconhecimento facial,
como o córtex extra-estriado.
Assim, um japonês que
nunca saiu do seu país, ao
desembarcar, digamos, na
Alemanha, vai achar todos
aqueles loiros muito parecidos e se questionar como é
que eles conseguem saber
quem é quem no dia-a-dia.
A explicação evolutiva
mais simples para esse bug
cerebral passa pelo fato de
que passear pelo mundo fazendo amigos é coisa recente. Por dezenas de milhares
de anos, encontros com etnias diferentes eram muito
raros. Só era necessário identificar gente parecida, e o cérebro se moldou para isso.
CHINATOWN
Roberto Caldara, neurocientista italiano-da Universidade de Glasgow (Escócia)
e autor do trabalho publicado na revista científica
"PNAS", diz que é interessante notar como esse cérebro limitado se adapta às
grandes cidades cosmopolitas do presente, com gente de
todo tipo nas ruas.
"Se você for europeu, mas
morar, digamos, em um bairro com muitos chineses, você
vai ver muitos rostos orientais todos os dias. Mas, exceto se você tiver treinado seu
cérebro para reconhecê-los
no nível individual, tendo vários amigos chineses e sabendo diferenciá-los, você vai
continuar achando todos
muito parecidos."
Isso vale, então, diz, para
São Paulo: para parar de confundir orientais (e irritá-los
chamando, por exemplo, coreano de japonês), é necessário se entrosar socialmente-
só passear no bairro da Liberdade não adianta.
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