São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004

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AMAZÔNIA

Dados preliminares divulgados ontem pelo Ministério do Meio Ambiente apontam mais devastação em área crítica

Sistema indica avanço no desmatamento

Antônio Gaudério - 25.out.04/Folha Imagem
Queimada florestal feita por pequenos proprietários para criação de gado em Tailândia, Pará


CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Dados preliminares obtidos por um novo sistema de monitoramento indicam que o desmatamento na Amazônia em 2004 ficou entre 23,1 mil e 24,4 mil quilômetros quadrados. O número, divulgado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente, confirma suspeitas de que a devastação se mantém alta, num novo patamar (de 23 mil km2), e pode atingir um novo recorde quando a cifra for consolidada, no começo de 2005.
Os dados foram apresentados em Brasília pelo secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco, durante um seminário de avaliação do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, lançado em março pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Eles foram obtidos com base no Deter, um sistema de monitoramento em tempo real do desmatamento que usa imagens do Modis, um conjunto de sensores a bordo de dois satélites (Aqua e Terra). Desde ontem, as imagens de sensoriamento remoto obtidas pelo sistema estão disponíveis para o público na internet (www.obt.inpe.br/deter).
O Deter usa uma metodologia diferente daquela utilizada pelo sistema que baseia as cifras oficiais de desmatamento, o Prodes. Portanto, a rigor os números não podem ser comparados. "Ele não é feito para o cálculo de área, vai mostrar indício de mudança", disse Capobianco à Folha.
Em 2002-2003, o Prodes registrou uma área desmatada total de 23,7 mil quilômetros quadrados, um aumento de 2% em relação ao período anterior, o que significou a perda da cobertura florestal numa área equivalente à de Sergipe.
No entanto, segundo Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra Amazônia Brasileira, os dados mostram uma tendência preocupante de aumento do desmatamento principalmente em áreas críticas, como as margens da BR-163 (Rodovia Cuiabá-Santarém), a Terra do Meio, no Pará, entre os rios Iriri e Xingu, e as cabeceiras do Xingu, em Mato Grosso. "Apenas na região central da BR-163 foi registrado um aumento de 511% do desmatamento em relação ao ano de 2003", diz.
Além disso, os dados apresentados não incluem áreas como o sudoeste do Amazonas e o Acre, nem a calha norte do rio Amazonas. "É uma notícia ruim", disse Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Para ele, os dados do Deter são conservadores porque, entre outras coisas, só flagram desmatamentos acima de 50 hectares.
Para Capobianco, o índice não pode ser considerado negativo. "Quando pegamos os dados no começo do ano, havia uma curva ascendente na taxa de desmatamento. A curva seria muito maior sem o plano", diz.
O secretário espera que, em 2005, o trabalho do governo se materialize em resultados positivos: "No ano que vem [o plano] vai ter de funcionar". Segundo ele, a implantação do projeto atrasou por causa da "formatação do modelo" entre 12 órgãos federais e a demora para liberar verbas não previstas no orçamento de 2004.


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