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Grupo brasileiro faz menor liga metálica do mundo
Físicos produziram e filmaram fio de ouro e prata com o diâmetro de um átomo
Pesquisadores de Campinas
e de Juiz de Fora estudam
propriedades do material,
que pode ganhar aplicação
em eletrônica sofisticada
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de físicos de Campinas (SP) e Juiz de Fora (MG)
conseguiu produzir a menor liga metálica do mundo, registrando em microscópio eletrônico uma imagem de ouro e
prata misturados em uma cadeia com apenas três átomos de
comprimento. A proeza técnica, realizada ao esticar um fio
de escala nanométrica (milionésimos de milímetro), foi revelada pelos cientistas em estudo na revista "Nature Nanotechnology" há duas semanas.
"Já tínhamos feito isso com
átomos de ouro, e o que a gente
fez agora foi provar que essa cadeia pode ter átomos de diferentes tipos", disse à Folha o físico Daniel Ugarte, do LNLS
(Laboratório Nacional de Luz
Síncrotron, em Campinas). Segundo os pesquisadores, os resultados do experimento trouxeram dados essenciais para
"compreender e poder utilizar
ligas bimetálicas para reforço
estrutural ou para condutores
elétricos em nanodispositivos
eletrônicos".
Ugarte afirmou que o trabalho publicado por seu grupo
agora aborda uma área pouco
explorada na nanotecnologia,
mas importante para a geração
de aplicações. As propriedades
versáteis das ligas metálicas
(como o aço e o bronze) colocaram esses materiais em uma
posição de destaque na história
da tecnologia em escala macroscópica. "Hoje a tecnologia
nos força trabalhar com coisas
cada vez menores, mas as propriedades das ligas ainda são
pouco conhecidas na escala nanométrica", diz o físico.
Por um nanofio
Para investigar como os átomos se comportam, os pesquisadores produziram nanofios
de liga de ouro e prata e depois
os observavam sendo tracionados até se romperem. ("É como
esticar um chiclete.") Antes de
se separarem, os dois segmentos ficavam por alguns instantes ligados pela cadeia de apenas três átomos, num pedaço
do fio em que ele tinha apenas
um átomo de diâmetro. Todo
processo foi estudado também
em simulações de computador
(veja imagem abaixo).
Ugarte explica que a diferença de comportamento da escala
nanométrica para a macroscópica ocorre porque átomos de
elementos diferentes tendem a
se reorganizar de maneira distinta. "O sistema pode se "purificar" sozinho porque, quando
há tão poucos átomos, uns acabam expulsando outros", diz.
O trabalho do grupo do LNLS
e da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) ainda não
tem aplicação prática, mas lança as bases técnicas para o trabalho com ligas em uma área
considerada promissora. Segundo os pesquisadores, nanofios podem ser, por exemplo,
usados na "spintrônica" um tipo de eletrônica que usa uma
propriedade quântica dos elétrons diferente da carga, como
ocorre em aparelhos comuns.
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