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Astrônomo vê "parto" de planeta
Astro gigante gasoso na constelação de Hidra ainda está preso pelo "cordão umbilical" à estrela-mãe
Descoberta, feita com um telescópio no Chile, é a 1ª observação que confirma teorias sobre o nascimento desses corpos celestes
Johny Setiawan/"Nature"/Divulgação
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Concepção artística mostra a estrela TW Hydrae com seu planeta gigante TWHya b dentro do chamado disco circunstelar |
DA REDAÇÃO
Foi como assistir ao vivo a
um parto. Astrônomos da Alemanha detectaram pela primeira vez um planeta extra-solar recém-nascido, ainda preso
pelo "cordão umbilical" à sua
estrela-mãe.
O nascimento aconteceu na
constelação de Hidra e está
sendo considerado a primeira
observação de um fenômeno
sobre o qual os astrônomos
apenas teorizavam: como surgem os planetas, neste Sistema
Solar e em outros.
O bebê, batizado TW Hya b,
está localizado a apenas 0,4
unidade astronômica (ou 40%
da distância da Terra ao Sol) de
sua estrela, a TW Hydrae. Ele é
um gigante gasoso com 9,8 vezes a massa de Júpiter e está
dentro do chamado disco circunstelar, uma nuvem de poeira e gás que cerca estrelas muito jovens e que, segundo a teoria, fornece o material para o
surgimento dos planetas.
"Essa descoberta mostra que
o que chamamos de discos protoplanetários são de fato protoplanetários -eles formam planetas", disse à Folha o astrônomo indonésio Johny Setiawan,
do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha.
Setiawan, 33, descobriu o novo planeta com o auxílio de um
telescópio do Observatório Europeu do Sul, em La Silla, Chile.
A descoberta está publicada na
revista "Nature" de hoje.
Razão pura
Desde o século 18 os cientistas acreditam que os planetas
nascem do mesmo material de
suas estrelas. A idéia foi sugerida pela primeira vez, de maneira independente, pelo filósofo
alemão Immanuel Kant (1724-1804) e pelo matemático francês Pierre-Simon de Laplace
(1749-1827). Eles observaram
que os planetas do Sistema Solar estavam todos alinhados no
mesmo plano, e isso não poderia ser mera coincidência. Sugeriram que o Sol e os seus planetas haviam se formado de
uma grande nuvem de gás e pó.
Estudos posteriores confirmaram a idéia original de Kant
e Laplace, e modelos surgiram
para explicar a gênese dos planetas a partir desses discos. O
problema é que, até agora, faltava um flagrante de planeta-bebê que enterrasse as dúvidas.
Isso porque estrelas jovens
geralmente são muito ativas, o
que atrapalha detecção de planetas com o método mais usado hoje, o da velocidade radial
(que registra ligeiros "bamboleios" da estrela causados pela
influência gravitacional do planeta). E, em estrelas com mais
de 10 milhões de anos, a "placenta" cósmica -o tal disco-
desaparece, varrida pela radiação e pelos ventos estelares.
Em 2003, Setiawan e seus colegas resolveram apostar na
"gravidez" das estrelas jovens e
monitorar 200 delas -muitas
ainda com suas "placentas" circunstelares intactas. A busca
acabou dando no TW Hya b.
"Talvez nós também tenhamos dado sorte pelo fato de o
planeta ser grande o bastante a
ponto de seu sinal ser detectado", afirmou o cientista.
O estudo ajuda a esclarecer
uma questão que ainda perturbava os astrônomos: em quanto
tempo um planeta pode se formar. Ele parece confirmar a
idéia de que planetas surgem
em intervalos curtos -menos
de 10 milhões de anos.
Por outro lado, as teorias
existentes não conseguem explicar como um planeta tão
grande quanto o TW Hya b pôde surgir tão perto de sua estrela. "Talvez [elas] precisem ser
aperfeiçoadas", diz Setiawan.
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