São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2009

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Historiador "fabrica" dinossauros em São Paulo

Ateliê é o único do país a fazer réplicas de fósseis para museus e universidades

Trabalho foi motivado por frustração de filho de três anos do modelista com falta de esqueletos em exibição e já resultou em 42 réplicas

Rafael Hupsel/Folha Imagem
Carlos Scarpinni, o Cao, segura uma réplica de crânio de um saurópode (dinossauro herbívoro gigante pescoçudo) fabricada por ele em seu ateliê em Itapecerica da Serra, São Paulo

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um galpão em uma chácara em Itapecerica da Serra (região metropolitana de São Paulo) esconde um ateliê único no Brasil: uma fantástica fábrica de dinossauros. Carlos Scarpinni, 47, mais conhecido como Cao, tem formação de historiador, mas tornou-se na prática um especialista na anatomia desses grandes animais extintos. Suas réplicas de esqueletos de dinos podem ser encontradas nos principais museus e centros de pesquisa do país.
Cao começou como nautimodelista. Fazia -e ainda faz- réplicas detalhadas de navios. O hobby virou profissão. Passou a fazer mapas topográficos e "maquetes de precisão" para engenharia. Seus barcos simulavam em miniatura aquilo que os pesquisadores gostariam de testar, por exemplo replicando as soldas ou os rebites que a embarcação real teria.
Entre seus clientes estão desde a Escola Politécnica da USP e o Porto de Santos até a Rede Globo -ele fez modelos de navios históricos, como a nau Príncipe Regente, que trouxe Dom João 6º ao Brasil, e foi filmada para a minissérie "O Quinto dos Infernos", de 2002. Hoje, graças ao sucesso dos seus dinossauros, construir navios voltou a ser hobby.
A ideia de fabricar dinossauros surgiu em 2000, graças a uma exposição no Instituto de Geociências da USP sobre fósseis. Cao levou à exposição seu filho Oscar, então com três anos e já um fã de dinos. "Meu filho ficou frustrado", diz. Não havia réplicas de dinossauros, só pedaços de fósseis.
Cao levou a ideia de produzir uma réplica à direção do instituto, que indicou o paleontólogo Thomas Fairchild para trabalhar no projeto. A verba foi obtida junto à Fundação Vitae. O animal escolhido foi um alossauro, um grande carnívoro que habitou o hemisfério Norte no Período Jurássico. "Foi o primeiro dino a ser reconstruído no Brasil em tamanho natural", diz Cao. Com 12,7 metros de comprimento, o esqueleto de alossauro enfeita hoje o pátio interno do instituto.

Do papel à resina
O processo é trabalhoso. O primeiro passo é obter os trabalhos científicos descrevendo o animal. O ideal seria poder manusear também algum fóssil. Uma primeira réplica é feita em espuma ou isopor. O cliente -um pesquisador- examina o resultado para checar a precisão da reprodução. Depois de aprovada a réplica, é feita a cópia definitiva em resina.
A cor e a textura reproduzem as originais do fóssil (o que explica ele ter feito um exótico dinossauro cor-de-rosa: a composição química do terreno fez o osso mineralizado apresentar essa cor). O material da réplica pode variar, dependendo do destino do esqueleto, pois uma exposição em área externa demanda uma resina mais resistente (e bem mais cara).
Até agora Cao já construiu 42 réplicas de dinos e outros animais pré-históricos. Seus clientes incluem o Ministério da Ciência e Tecnologia, a USP, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Museu de História Natural de Taubaté e o Museu dos Dinossauros de Uberaba.
A lista inclui até um cliente privado. E deverá aumentar. Cao estudou 214 osteometrias -medições de ossos- desses vertebrados extintos. Tem hoje o potencial de fabricar 200 espécies diferentes. Dá para preencher qualquer museu.


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