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Caatinga perde 2 cidades de SP por ano
Área desmatada anualmente é de 2.763 km2, e ritmo é semelhante ao da derrubada na Amazônia; só resta 54% do bioma
Uso de lenha para carvão
industrial é maior ameaça;
dados saíram de primeiro
monitoramento por satélite
do semiárido nordestino
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A caatinga vem perdendo por
ano uma área de sua vegetação
nativa equivalente a duas vezes
a cidade de São Paulo, revelou o
primeiro monitoramento já
feito sobre esse bioma. De acordo com o Ministério do Meio
Ambiente, resta pouco mais da
metade -53,62%- da cobertura vegetal original típica do semiárido nordestino.
A principal causa de desmatamento na região é a produção
de energia. Abatida, a mata nativa é transformada em lenha e
carvão destinados a abastecer
siderúrgicas nos Estados de
Minas Gerais e do Espírito Santo ou a mover indústrias de gesso e cerâmica instaladas no
próprio semiárido.
"Sem estimularmos alternativas de geração de energia, como gás natural ou energia eólica [dos ventos], não vamos conter o desmatamento na caatinga", observou ontem o ministro
Carlos Minc (Meio Ambiente)
ao divulgar os números do monitoramento do bioma, que só
existe no Brasil.
Minc classificou de "intolerável" o ritmo do corte da vegetação no local e anunciou para
breve novas ações de repressão
no semiárido. Recentemente, o
ministério mandou parar parte
das indústrias de gesso instaladas na região.
Dados de satélite indicam
que a caatinga perdeu, num período de seis anos, entre 2002 e
2008, 16.576 quilômetros quadrados de vegetação nativa. Isso equivale a 2% do bioma, que
detém cerca de 10% do território nacional. O ritmo do desmatamento é semelhante ao verificado na Amazônia.
Apesar do porte menor das
árvores, o abate da caatinga foi
responsável pelo lançamento
de 25 milhões de toneladas de
carbono por ano na atmosfera.
Isso significa o dobro do corte
das emissões de carbono planejado pelo governo com medidas
de eficiência energética em
2020. Ou o equivalente à geração de energia por fontes alternativas, como pequenas hidrelétricas e usinas eólicas, também em 2020, conforme as metas oficiais do país.
O desmatamento na caatinga
preocupa porque a região do semiárido já foi identificada como uma das áreas mais vulneráveis no Brasil às mudanças
climáticas. Um terço da economia pode ser afetado com o aumento da temperatura.
Carlos Minc adiantou que o
bioma também deve contar
com metas para a redução do
abate de árvores, da mesma forma que a Amazônia e o cerrado.
"A Amazônia é fundamental,
mas o ministério não pode ser
samba de uma nota só", disse.
Uma das medidas em estudo é a
criação de mais unidades de
conservação na caatinga, como
a que será estabelecida na serra
das Confusões (PI) neste mês.
Áreas protegidas representam
atualmente 7% do bioma.
Bahia e Ceará concentram
mais da metade do desmatamento medido pelo ministério
no período mais recente, até
2008. O município de Acopiara
(CE) lidera o ranking. Em Alagoas, o ritmo foi menor, mas
restam poucas áreas preservadas no Estado.
O padrão de corte de árvores
na caatinga é diferente do verificado em outros biomas já monitorados. Nos últimos anos, os
satélites mostram que o desmatamento ocorreu de forma
pulverizada na região.
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