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POLÍTICA CIENTÍFICA
Pesquisador de país mais pobre tem desvantagem adicional com preços de equipamentos e materiais
Brasileiro paga até 70% mais por insumos
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Como se competir com os orçamentos milionários de americanos e europeus já não fosse ruim o
bastante, cientistas dos países pobres têm outro adversário: o preço dos equipamentos e substâncias de laboratório. O mesmo produto pode custar até 70% mais
para um pesquisador brasileiro
do que para seu colega nos EUA.
A estimativa é de uma pesquisa
publicada na última edição da revista britânica "Nature" (www.nature.com). Ela foi desencadeada, em parte, por reclamações dos
próprios cientistas brasileiros.
"Felizmente os editores se animaram com a idéia", diz o neurocientista Stevens Kastrup Rehen,
32, que divide seu tempo entre a
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) e o Instituto de
Pesquisa Scripps, na Califórnia.
O levantamento comparou o
preço de aparelhos e reagentes de
laboratório na Alemanha e na sua
contraparte "subdesenvolvida"
na Europa, a Polônia. Fez o mesmo na América, comparando os
mercados americano e brasileiro.
Dos 12 produtos comparados
entre EUA e Brasil, só um não era
mais caro em território nacional.
Na comparação germano-polonesa, os alemães pagam menos
por 16 dos 18 produtos.
A "Nature" pediu que um cientista em cada país informasse o
preço de produtos de uso comum
em laboratórios da área biológica,
que trazem a marca de oito grandes fornecedores do ramo.
A diferença é especialmente
pronunciada entre Estados Unidos e Brasil. Uma centrífuga Eppendorf, usada para manter homogêneos os meios de cultura onde proliferam microrganismos de
laboratório, custa US$ 1.950 para
um cientista americano. Para o
brasileiro, sai por US$ 3.110
-quase 60% a mais.
Quem quiser comprar um quilo
de extrato de levedura da Sigma-Aldrich, por sua vez, paga US$
202 nos EUA. No Brasil, US$ 340
-diferença de 70% para cima.
A Folha apurou que, na área das
agências de fomento à pesquisa
no país, esse desnível é atribuído a
uma série de razões. Para alguns
cientistas, nos países mais pobres
as filiais e os distribuidores tentam compensar o risco maior de
inadimplência com a prática de
preços mais altos.
Além disso, o fato de terem
clientes seguros e com receita garantida no mundo desenvolvido
também faz com que a política de
descontos seja mais generosa com
os americanos e europeus ocidentais. Outro problema é o maior
número de fornecedores competindo nos países ricos, o que tende
a gerar preços mais baixos.
"É um grande problema, tudo é
tão caro na Polônia que nós precisamos ter 75% mais dinheiro", reclamou à "Nature" Jan Potempa,
microbiologista da Universidade
Jageloniana de Cracóvia e da Universidade da Geórgia, nos EUA.
"Conheço cientistas poloneses
que sempre voltam dos Estados
Unidos com as malas cheias de
produtos científicos", conta ele.
Rehen, que se diz desanimado
com a perspectiva de tocar um laboratório no Rio com as condições atuais de preços, sugere medidas: "Podemos negociar, através de nossas sociedades representativas, o abatimento dos preços ou a redução da margem de
lucro, baseando-nos na comparação dos preços entre países", diz.
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