São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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Gene aumenta risco de câncer de pulmão

Fumantes portadores de variação comum no DNA têm risco até 80% maior de desenvolver doença que não-fumantes

Resultado é de três estudos independentes, que fizeram varredura no DNA de fumantes; variações de risco estão no cromossomo 15

DA REDAÇÃO

Três grupos internacionais de cientistas identificaram pela primeira vez um conjunto de variações genéticas -todas no mesmo trecho do DNA humano- que aumentam o risco de câncer de pulmão nos fumantes. A descoberta mostra que algumas pessoas têm predisposição hereditária ao câncer, o que as torna mais vulneráveis aos efeitos danosos do tabaco.
A descoberta foi feita de forma independente por grupos na França, na Islândia e no Reino Unido. Eles usaram novos métodos para vasculhar o genoma humano e chegaram ao mesmo resultado, o que aumentou a confiança nas conclusões. As descobertas foram publicadas nas revistas "Nature" e "Nature Genetics".
No total, foram analisadas 300 mil mutações no DNA de mais de 12 mil fumantes e ex-fumantes na Europa e na América do Norte. Os pesquisadores chegaram a duas regiões do cromossomo 15 que parecem abrigar os genes ligados à predisposição ao câncer. É aí também que estão os genes que codificam os receptores da nicotina, princípio ativo do cigarro.
"Esse gene é como uma praga dupla", disse Christopher Amos, professor de epidemiologia no M.D. Anderson Cancer Center, nos EUA, e co-autor de um dos estudos, referindo-se a uma das variações genéticas descobertas. "Também torna você mais suscetível a ser dependente de cigarro e menos suscetível a parar de fumar."
Um fumante que herda duas cópias de uma dessas variações genéticas (do pai e da mãe) tem uma chance 80% maior de ter câncer de pulmão do que um fumante sem a variante.
As descobertas podem levar a uma melhor forma de prevenir e tratar o câncer de pulmão, o tipo de tumor mais comum no mundo, que deve atingir só no Brasil 27.300 pessoas em 2008, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
"Abre-se a possibilidade para que tratamentos que bloqueiem esses genes possam ser benéficos no tratamento estratégico contra o câncer de pulmão e também contra o vício", disse Paul Brennan, da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer, em Lyon, França.
O fumo causa nove de dez casos de câncer. Entretanto, apenas cerca de 15% dos fumantes desenvolvem realmente a doença, e os médicos há tempos suspeitam que um elemento genético estivesse envolvido.
Os cientistas salientam que a descoberta não equivale a uma "licença para fumar" para as pessoas sem as variações genéticas. "O que interessa ao indivíduo é o risco absoluto de ter câncer de pulmão", disse Brennan. "Se você fumar a vida inteira, ele é de 15%, e se você não tem nenhuma cópia do gene variante, é um pouco menos. Mas, se você tem as duas cópias, será de cerca de 25%. Obviamente, mesmo em quem não tem nenhuma cópia, ainda há um risco alto para quem fuma."
"Mesmo que um subgrupo de pessoas seja tido como "resistente" aos efeitos do fumo no desenvolvimento do câncer de pulmão, é improvável que essas pessoas também estejam protegidas contra doenças cardíacas e obstrução pulmonar", escreveram Stephen Chanockis, do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, e David Hunter, da Universidade Harvard. Eles comentaram os estudos na "Nature" de hoje.
Pessoas que nunca fumaram e que portam essas variações genéticas no cromossomo 15 -cerca de 50% da população possui uma cópia do gene- também podem ter um risco aumentado de desenvolver o tumor, embora os três estudos não estejam de acordo sobre isso. Os genes podem aumentar o risco de câncer simplesmente ao aumentar a dependência, já que a ação cancerígena da nicotina é conhecida.


Com Associated Press e "The Independent"


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