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Robô-biólogo faz sua 1ª descoberta científica original
Autômato feito no Reino Unido desvenda sozinho funções de genes em levedura; cientistas humanos validaram pesquisa
Objetivo não é substituir
graduandos em tarefas chatas em laboratório, mas
acelerar o desenvolvimento
de medicamentos no futuro
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
À primeira vista, ele se parece mais com uma máquina de
fotocópia do que com com um
robô de filme de ficção científica. O autômato mostrado na foto à direita, porém, é o primeiro
robô-cientista capaz de fazer
novas descobertas, afirmam os
seus criadores. Batizado Adam
(Adão, em inglês), ele conseguiu elucidar o papel de alguns
genes do processamento de
energia biológica de micróbios,
e o resultado de seu primeiro
estudo foi comprovado por
cientistas humanos.
Adam não é o tipo de cientista que seria cotado ao Prêmio
Nobel. Sua principal habilidade
é realizar experimentos moleculares com uma paciência e
uma perseverança que nem o
mais aplicado dos estudantes
de biologia teria. Amanda Clare, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Aberystwyth (Inglaterra), uma das criadoras do robô, explica que ele está mesmo
mais para um técnico aplicado
que para um gênio criador.
"Ele conduz muito do trabalho monótono de nível baixo",
disse à Folha. "Nesses experimentos, é preciso fazer uma
leitura de placas [com informações sobre DNA] a cada 20 minutos, noite e dia, sem parar,
coisa da qual os graduandos
não gostam muito."
Basicamente, o novo robô
parte de hipóteses sobre a estrutura das moléculas que vai
estudar e realiza experimentos
com reações químicas para testá-las. Surpreendentemente,
consegue adivinhar também
como prosseguir com o experimento caso o teste dê certo ou
errado. É uma rotina semelhante à de biólogos que tentam entender o funcionamento
de vários genes de uma vez para testar novos medicamentos.
O que Adam descobriu agora
foi o papel de alguns genes do
metabolismo de leveduras usadas para fermentar pão. Algo
trivial para um biólogo molecular. Clare reconhece que dificilmente essa descoberta estaria descrita em estudo na edição de hoje da prestigiada revista "Science" se ela não tivesse sido feita por um autômato.
Adam é uma versão aprimorada de outro robô, projetado
por Ross King, líder do grupo
de Clare, em 2004. Esta foi a
primeira vez, porém, que um
autômato descobriu algo que
cientistas ainda não sabiam.
Marcelo Nóbrega, geneticista da Universidade de Chicago,
leu o trabalho de King e Clare,
mas não pareceu se impressionar com a inteligência de
Adam. "Nas coordenadas que
foram dadas à maquina, já de
cara estava toda a instrução das
vias metabólicas e suas conexões", diz. "Mas isso não é para
dizer que é algo imprestável.
Alguém teria de fazer esses experimentos, e nem a paciência
de um exército de monges tibetanos seria suficiente."
E não é só no campo da biologia que robôs ameaçam o emprego dos graduandos ao assumirem tarefas chatas em laboratórios. Outro estudo hoje na
"Science", de físicos da Universidade Cornell (EUA), mostra
um autômato que elaborou
equações para descrever o
comportamento de um pêndulo articulado, um problema
matemático complexo. Tudo
com base na observação da geringonça balançando.
Clare tranquiliza os estudantes. "Graduandos não têm nos
seus cérebros toda a maciça informação sobre genômica gerada hoje", diz. "Mas eles têm
algo que os computadores não
têm: o entendimento de biologia básica. Essa informação
ainda não é possível codificar
em computadores."
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