São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2005

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SISMOLOGIA

Estudo da Universidade Hebraica de Jerusalém aponta grandes terremotos na região nos últimos 185 mil anos

Cacos de rocha em cavernas dão histórico de tremores

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Recolher cacos de caverna pode ser a resposta para decifrar os enigmas dos grandes terremotos. É o que acaba de demonstrar um estudo de cientistas israelenses.
Coletando e analisando espeleotemas -palavra bonita que designa estruturas produzidas em cavernas, como estalactites e estalagmites-, o grupo foi capaz de reconstruir os últimos 185 mil anos da história dos terremotos na região do Mar Morto.
A idéia é basicamente analisar os tremores pelos impactos que eles causam nas cavernas. "Estalactites quebradas -aquelas que caem do teto-, desabamentos de teto e estalagmites com as pontas cortadas -essas são as que crescem do chão para cima-, coisas do tipo. A simultaneidade desses eventos confirma uma origem sísmica desses danos", explica Elisa Kagan, da Universidade Hebraica de Jerusalém, primeira autora do estudo, publicado na edição de abril da revista científica norte-americana "Geology" (www.gsajournals.org).
Claro, depois de encontrar sinais de destruição decorrentes de um desabamento em cavernas, é preciso descobrir em que época eles caíram. Para tanto, os pesquisadores usam uma técnica que mede as proporções de dois elementos, urânio e tório, nos espeleotemas. Sabe-se que, com o passar do tempo, átomos de urânio tendem a perder prótons de seus núcleos e se transformar em átomos de tório. Os cientistas já conhecem de cor os passos que levam a essa transformação, e em quanto tempo ela acontece. Então, é possível, a partir da proporção dos dois elementos numa estalactite, saber há quantos mil anos ela se formou.
Por conta disso, Elisa Kagan e seus colegas conseguiram criar uma cronologia de terremotos que ocorreram naquela região nos últimos 185 mil anos. A idéia por trás do estudo não é exatamente nova, mas foi a primeira vez que alguém conseguiu colocá-la em prática. "Foi um teste do método, ninguém havia feito isso em lugar algum", diz Kagan. "A idéia havia sido proposta, mas nenhum registro rigorosamente datado de nenhum tipo havia sido feito, então tivemos de nos certificar de que a coisa funcionava."
E funciona -até certo ponto. Somente os terremotos mais intensos, que atingem pelo menos 7 ou 8 na escala Richter, aparecem com clareza nos registros. Isso pode até parecer uma falha da metodologia, mas Kagan garante que, na verdade, trata-se de uma bênção disfarçada. "Na verdade, é como um filtro. Esse é um registro especial dos maiores terremotos -os menores não podem ser vistos, então podemos ter um entendimento da recorrência dos grandes terremotos, estudar seu comportamento a longo prazo."
Por outro lado, se qualquer terremotinho de nada já fizesse estragos sérios nas cavernas, esse tipo de pesquisa seria uma perda de tempo. "Se cada terremoto de magnitude 5 tivesse um efeito na caverna, seria impossível interpretar qualquer coisa, pois haveria tantos colapsos um sobre o outro, e suas idades iam ser mais difíceis de distinguir", diz Kagan.
Em seus resultados, nos últimos 185 mil anos, os cientistas deduziram a ocorrência de pelo menos 13 e talvez até 18 terremotos de grande magnitude. Datando 38 amostras, eles chegaram à conclusão de que os tremores lá ocorrem a cada 10 mil a 14 mil anos.

Continuidade
O trabalho, evidentemente, ainda está em andamento. Kagan e seus colegas pretendem continuar a pesquisa, com um duplo objetivo: além de "pegar" outros terremotos que eles possam ter perdido nessa coleta inicial, os cientistas querem estender o registro para além dos 185 mil anos de idade. Segundo eles, a estratégia "abre uma significativa nova rota de pesquisa de terremotos que irá fornecer datações precisas e restrições observacionais sobre tremores grandes e infreqüentes".
E as cavernas que eles estudaram, chamadas Soreq e Har-Tuv, localizadas a 40 quilômetros da falha do Mar Morto, não são as únicas que podem se prestar a esse tipo de pesquisa. "Em tese, pode-se fazer isso em qualquer lugar em que espeleotemas crescem", diz Kagan. "É especialmente valiosa em lugares nos quais o crescimento de espeleotemas tem sido contínuo, durante os períodos glaciais e interglaciais, nas regiões de latitudes baixas e médias. Lá, os registros são contínuos."


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