|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SISMOLOGIA
Estudo da Universidade Hebraica de Jerusalém aponta grandes terremotos na região nos últimos 185 mil anos
Cacos de rocha em cavernas dão histórico de tremores
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Recolher cacos de caverna pode
ser a resposta para decifrar os
enigmas dos grandes terremotos.
É o que acaba de demonstrar um
estudo de cientistas israelenses.
Coletando e analisando espeleotemas -palavra bonita que
designa estruturas produzidas em
cavernas, como estalactites e estalagmites-, o grupo foi capaz de
reconstruir os últimos 185 mil
anos da história dos terremotos
na região do Mar Morto.
A idéia é basicamente analisar
os tremores pelos impactos que
eles causam nas cavernas. "Estalactites quebradas -aquelas que
caem do teto-, desabamentos de
teto e estalagmites com as pontas
cortadas -essas são as que crescem do chão para cima-, coisas
do tipo. A simultaneidade desses
eventos confirma uma origem sísmica desses danos", explica Elisa
Kagan, da Universidade Hebraica
de Jerusalém, primeira autora do
estudo, publicado na edição de
abril da revista científica norte-americana "Geology" (www.gsajournals.org).
Claro, depois de encontrar sinais de destruição decorrentes de
um desabamento em cavernas, é
preciso descobrir em que época
eles caíram. Para tanto, os pesquisadores usam uma técnica que
mede as proporções de dois elementos, urânio e tório, nos espeleotemas. Sabe-se que, com o passar do tempo, átomos de urânio
tendem a perder prótons de seus
núcleos e se transformar em átomos de tório. Os cientistas já conhecem de cor os passos que levam a essa transformação, e em
quanto tempo ela acontece. Então, é possível, a partir da proporção dos dois elementos numa estalactite, saber há quantos mil
anos ela se formou.
Por conta disso, Elisa Kagan e
seus colegas conseguiram criar
uma cronologia de terremotos
que ocorreram naquela região
nos últimos 185 mil anos. A idéia
por trás do estudo não é exatamente nova, mas foi a primeira
vez que alguém conseguiu colocá-la em prática. "Foi um teste do
método, ninguém havia feito isso
em lugar algum", diz Kagan. "A
idéia havia sido proposta, mas nenhum registro rigorosamente datado de nenhum tipo havia sido
feito, então tivemos de nos certificar de que a coisa funcionava."
E funciona -até certo ponto.
Somente os terremotos mais intensos, que atingem pelo menos 7
ou 8 na escala Richter, aparecem
com clareza nos registros. Isso pode até parecer uma falha da metodologia, mas Kagan garante que,
na verdade, trata-se de uma bênção disfarçada. "Na verdade, é como um filtro. Esse é um registro
especial dos maiores terremotos
-os menores não podem ser vistos, então podemos ter um entendimento da recorrência dos grandes terremotos, estudar seu comportamento a longo prazo."
Por outro lado, se qualquer terremotinho de nada já fizesse estragos sérios nas cavernas, esse tipo de pesquisa seria uma perda de
tempo. "Se cada terremoto de
magnitude 5 tivesse um efeito na
caverna, seria impossível interpretar qualquer coisa, pois haveria tantos colapsos um sobre o outro, e suas idades iam ser mais difíceis de distinguir", diz Kagan.
Em seus resultados, nos últimos
185 mil anos, os cientistas deduziram a ocorrência de pelo menos
13 e talvez até 18 terremotos de
grande magnitude. Datando 38
amostras, eles chegaram à conclusão de que os tremores lá ocorrem
a cada 10 mil a 14 mil anos.
Continuidade
O trabalho, evidentemente, ainda está em andamento. Kagan e
seus colegas pretendem continuar a pesquisa, com um duplo
objetivo: além de "pegar" outros
terremotos que eles possam ter
perdido nessa coleta inicial, os
cientistas querem estender o registro para além dos 185 mil anos
de idade. Segundo eles, a estratégia "abre uma significativa nova
rota de pesquisa de terremotos
que irá fornecer datações precisas
e restrições observacionais sobre
tremores grandes e infreqüentes".
E as cavernas que eles estudaram, chamadas Soreq e Har-Tuv,
localizadas a 40 quilômetros da
falha do Mar Morto, não são as
únicas que podem se prestar a esse tipo de pesquisa. "Em tese, pode-se fazer isso em qualquer lugar
em que espeleotemas crescem",
diz Kagan. "É especialmente valiosa em lugares nos quais o crescimento de espeleotemas tem sido contínuo, durante os períodos
glaciais e interglaciais, nas regiões
de latitudes baixas e médias. Lá,
os registros são contínuos."
Texto Anterior: Hormônio de pílula altera próstata de feto Próximo Texto: Panorâmica - Espaço: Cassini faz mais análises da lua Titã Índice
|