São Paulo, sábado, 03 de junho de 2006

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Polícia volta a apreender fósseis em museu paulista

Caio Guateli/Folha Imagem
Laje com fósseis na casa de Corradini


Artesã já foi processada por comércio, que é ilegal, e tinha 5.000 peças em casa

Ação da Polícia Federal e do Departamento Nacional da Produção Mineral ocorreu após denúncia anônima; caso se arrasta há 9 anos


ANA PAULA CORRADINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma das maiores novelas da paleontologia brasileira pareceu ter seu último capítulo em outubro de 2005, mas ainda está longe de terminar. A Polícia Federal, em uma ação conjunta com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), voltou a apreender mais de 5 mil fósseis da artesã Urânia Gusmão Corradini, que há quase dez anos é suspeita de vendê-los ilegalmente no Brasil e no exterior. Um decreto-lei de 1942 proíbe a exploração e comercialização de fósseis sem a autorização do DNPM.
Corradini chegou a ser processada por furto e receptação dos fósseis, mas foi absolvida em 2005 por não saber que estava cometendo um crime, segundo o juiz da 7ª Vara Criminal Federal, Márcio Rached Millani. Os fósseis, que estavam sob guarda da Unesp (Universidade Estadual Paulista) desde 2001, foram devolvidos a ela. No entanto, o DNPM recebeu uma denúncia anônima de que Corradini estaria vendendo os fósseis novamente na Praça da República, em São Paulo -local da primeira apreensão, em 1997.
Corradini admite ter comercializado as peças. "Troquei alguns fósseis, vendi outros para colecionadores e pessoas que estudam as peças, mas poderia ter vendido tudo isso, se quisesse", diz, apontando para as paredes repletas de grandes fósseis de peixes do período Cretáceo em sua casa. "Qual é o problema em vender algo que é seu?", pergunta o advogado de Corradini, Ivan Motta, "O juiz restitui a ela a posse dos fósseis, que estão inclusive em sua declaração de bens. Quem é dono pode fazer o que quiser."
No entanto, de acordo a Justiça Federal, a posse dos fósseis não foi o foco do processo.
A PF também diz ter provas de que ela não estava vendendo só as peças restituídas e de que comprou exemplares novos. "Encontramos algumas caixas com fósseis que ela tinha acabado de receber", disse o agente Paulo Endo. Corradini nega: "Não comprei mais nada além de pedaços de árvores petrificadas, e tenho a nota fiscal."
Para a assessora do delegado federal Jorge Márcio Arantes Cardoso, o grande problema é que não há uma lista que especifique quais fósseis foram restituídos: não há como saber se ela estava comercializando as mesmas peças ou fósseis novos.
A PF apreendeu todos os fósseis, mas só levou as peças menores, em sua maioria peixes e insetos. As maiores, como ossos de dinossauros, um pterossauro (réptil voador), e mesossauros (répteis aquáticos), além de grandes peixes, ficarão no museu particular de Corradini pois são frágeis e poderiam se quebrar durante o trajeto. Os cômodos permanecerão lacrados até passarem por perícia. O DNPM ainda não definiu o destino das peças apreendidas. Técnicos do órgão em Brasília começaram anteontem a trabalhar na reformulação do decreto-lei de 1942, para aumentar o rigor contra o tráfico de fósseis.


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