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Em cobaias, gripe suína é mais grave que a comum
Experimento com furões indica que novo vírus pode se abrigar nos pulmões, na traqueia e no intestino, além de vias respiratórias
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois estudos paralelos nos
EUA e na Holanda mostraram
que o vírus da gripe suína ou
2009 A(H1N1) causa no furão,
um pequeno mamífero, uma
doença um pouco mais severa
do que o vírus H1N1 das gripes
sazonais. Os resultados indicam que é provável que o vírus
permaneça por longo tempo
em populações humanas -com
potencial ainda desconhecido
de se tornar mais perigoso.
A nova gripe 2009 A(H1N1)
pode ter vindo do porco, mas,
quando se trata de estudar seu
potencial no ser humano, o animal mais indicado é o furão,
pois o vírus causador da doença
afeta o pequeno mamífero de
modo semelhante.
"Ambos os grupos concordam que o vírus não se transmite apenas por contato direto,
mas também por meio do ar. Isso tem implicações importantes para as medidas implementadas para parar com a transmissão", disse à Folha o líder
da equipe holandesa, Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, de Roterdã, Holanda.
A gripe foi considerada uma
epidemia global (pandemia)
pela Organização Mundial de
Saúde em 11 de junho passado.
As duas equipes -uma dos
EUA, outra da Holanda- descobriram que o novo vírus se
multiplica mais intensamente
no trato respiratório (pulmão,
brônquios), enquanto que o vírus sazonal permanece na cavidade nasal (veja quadro à dir.).
Os americanos também
acharam o vírus suíno no intestino do furão. Uma das características misteriosas do novo vírus é sua capacidade de produzir sintomas não associados a
gripe, como vômitos e distúrbios gastrointestinais.
"Estes dados sugerem que o
vírus influenza 2009 A(H1N1)
tem a habilidade de persistir na
população humana, potencialmente com mais severas consequências clínicas", relata a
equipe holandesa.
"Os fatores que levam à geração de vírus pandêmicos são
complexos e pouco conhecidos, mas a habilidade de um
novo vírus influenza de causar
doenças graves e ser transmitido pelo ar é um traço de linhagens pandêmicas de influenza", afirma a equipe americana,
chefiada por Terrence Tumpey, dos CDC (Centros para
Controle e prevenção da Doença) dos EUA.
Os dois artigos estão no site
da revista americana "Science".
Refúgio intestinal
"O estudo corrente foi conduzido para ajudar a obter pistas sobre a virulência e a transmissibilidade inerentes ao novo vírus de influenza 2009
A(H1N1). No momento, não está claro como alguns vírus de
influenza são capazes de replicar no trato gastrointestinal,
enquanto que outros não. É
provavelmente uma combinação de ligação de receptores e
modificações em outros genes
de influenza desconhecidos.
Essa é uma área ativa de estudo", declarou Tumpey à Folha.
"O 2009 A(H1N1) não mata a
maior parte dos seus hospedeiros, mas se transmite eficientemente pelo ar", disse Fouchier.
"Essa é uma estratégia perfeita
para o vírus. No presente, apenas um em cada 200 pacientes
confirmados morreu."
"A gripe espanhola matou
mais, mas mesmo assim a
maior parte das pessoas sobreviveu. Vírus da gripe não são
realmente matadores em termos evolucionários. Eles se
disseminam facilmente e deixam a maior parte dos hospedeiros viva", afirma Fouchier.
Houve uma diferença de resultado entre os dois grupos
em relação à transmissibilidade dos vírus por gotículas no ar.
O grupo americano concluiu
que o 2009 A(H1N1) é menos
transmissível que o vírus sazonal, enquanto que os holandeses reportaram que os dois têm
a mesma -e grande- capacidade de transmissão.
Segundo Fouchier, a diferença vem de os dois estudos ainda
terem significado estatístico
fraco, pois o número de furões
estudados foi pequeno. Os furões americanos espirravam
bem menos que os holandeses,
talvez pela disparidade de clima entre Atlanta e Roterdã.
"Mas, no fundo, nós não sabemos o que causou essa modesta
diferença", conclui o cientista.
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