São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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Em cobaias, gripe suína é mais grave que a comum

Experimento com furões indica que novo vírus pode se abrigar nos pulmões, na traqueia e no intestino, além de vias respiratórias

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois estudos paralelos nos EUA e na Holanda mostraram que o vírus da gripe suína ou 2009 A(H1N1) causa no furão, um pequeno mamífero, uma doença um pouco mais severa do que o vírus H1N1 das gripes sazonais. Os resultados indicam que é provável que o vírus permaneça por longo tempo em populações humanas -com potencial ainda desconhecido de se tornar mais perigoso.
A nova gripe 2009 A(H1N1) pode ter vindo do porco, mas, quando se trata de estudar seu potencial no ser humano, o animal mais indicado é o furão, pois o vírus causador da doença afeta o pequeno mamífero de modo semelhante.
"Ambos os grupos concordam que o vírus não se transmite apenas por contato direto, mas também por meio do ar. Isso tem implicações importantes para as medidas implementadas para parar com a transmissão", disse à Folha o líder da equipe holandesa, Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, de Roterdã, Holanda.
A gripe foi considerada uma epidemia global (pandemia) pela Organização Mundial de Saúde em 11 de junho passado.
As duas equipes -uma dos EUA, outra da Holanda- descobriram que o novo vírus se multiplica mais intensamente no trato respiratório (pulmão, brônquios), enquanto que o vírus sazonal permanece na cavidade nasal (veja quadro à dir.).
Os americanos também acharam o vírus suíno no intestino do furão. Uma das características misteriosas do novo vírus é sua capacidade de produzir sintomas não associados a gripe, como vômitos e distúrbios gastrointestinais.
"Estes dados sugerem que o vírus influenza 2009 A(H1N1) tem a habilidade de persistir na população humana, potencialmente com mais severas consequências clínicas", relata a equipe holandesa.
"Os fatores que levam à geração de vírus pandêmicos são complexos e pouco conhecidos, mas a habilidade de um novo vírus influenza de causar doenças graves e ser transmitido pelo ar é um traço de linhagens pandêmicas de influenza", afirma a equipe americana, chefiada por Terrence Tumpey, dos CDC (Centros para Controle e prevenção da Doença) dos EUA.
Os dois artigos estão no site da revista americana "Science".

Refúgio intestinal
"O estudo corrente foi conduzido para ajudar a obter pistas sobre a virulência e a transmissibilidade inerentes ao novo vírus de influenza 2009 A(H1N1). No momento, não está claro como alguns vírus de influenza são capazes de replicar no trato gastrointestinal, enquanto que outros não. É provavelmente uma combinação de ligação de receptores e modificações em outros genes de influenza desconhecidos. Essa é uma área ativa de estudo", declarou Tumpey à Folha.
"O 2009 A(H1N1) não mata a maior parte dos seus hospedeiros, mas se transmite eficientemente pelo ar", disse Fouchier. "Essa é uma estratégia perfeita para o vírus. No presente, apenas um em cada 200 pacientes confirmados morreu."
"A gripe espanhola matou mais, mas mesmo assim a maior parte das pessoas sobreviveu. Vírus da gripe não são realmente matadores em termos evolucionários. Eles se disseminam facilmente e deixam a maior parte dos hospedeiros viva", afirma Fouchier.
Houve uma diferença de resultado entre os dois grupos em relação à transmissibilidade dos vírus por gotículas no ar. O grupo americano concluiu que o 2009 A(H1N1) é menos transmissível que o vírus sazonal, enquanto que os holandeses reportaram que os dois têm a mesma -e grande- capacidade de transmissão.
Segundo Fouchier, a diferença vem de os dois estudos ainda terem significado estatístico fraco, pois o número de furões estudados foi pequeno. Os furões americanos espirravam bem menos que os holandeses, talvez pela disparidade de clima entre Atlanta e Roterdã. "Mas, no fundo, nós não sabemos o que causou essa modesta diferença", conclui o cientista.


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