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Universo não precisou de Deus para surgir, diz físico
Britânico Stephen Hawking, 68, reacende polêmica religiosa em novo livro
Cientista-celebridade
aposta em múltiplos
cosmos para explicar
leis da natureza sem
recorrer a divindades
Valentin Flaraud - 9.set.2009/Reuters
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Stephen Hawking antes de palestra em Meyrin, na Suíça, em setembro de 2009
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA
O físico-celebridade britânico Stephen Hawking aparentemente cansou de bancar o bonzinho com Deus. Em
seu mais novo livro, ele afirma que o Criador é dispensável para explicar o Universo.
E isso porque a obra de
Hawking, 68, recebeu o nome enganoso de "The Grand
Design" ("O Projeto Grandioso"). Mas, junto com o físico e
coautor Leonard Mlodinow,
o que ele faz no texto é negar
a existência de um projeto divino para o Cosmos.
"Uma vez que existe uma
lei como a gravidade, o Universo pode e vai criar a si
mesmo a partir do nada. A
criação espontânea é a razão
pela qual existe alguma coisa
no lugar de coisa nenhuma, a
razão de nós existirmos. Não
é preciso invocar Deus para
que o Universo tenha um começo", escreveu a dupla.
O trecho do livro, que só
chega às lojas na semana que
vem, foi publicado no diário
"Times", de Londres.
RABINO REBATE
O bafafá em torno das frases fez com que Hawking fosse um dos temas mais comentados no Twitter ontem e
levou até a uma réplica mal-humorada do rabino-chefe
do Reino Unido, Lorde Jonathan Sacks. "A ciência que se
disfarça de religião é tão perniciosa quanto a religião que
se disfarça de ciência", disse.
A imprensa britânica chegou a pintar o livro como
uma virada de casaca. "Parece que levaram ao pé da letra
a afirmação dele sobre Deus
na obra "Uma Breve História
do Tempo", de 1988", diz o físico Leandro Tessler, da Unicamp. Nesse best-seller,
Hawking disse que entender
as leis do Universo seria como ler "a mente de Deus".
Mais tarde, porém, deixou
claro que se tratava de uma
metáfora e afirmou que não
era religioso. Quase totalmente paralisado e com fama
de gênio, Hawking tem aura
de profeta da ciência, mas
não há nada de realmente
novo no que escreveu.
"A ideia de que o Universo
surgiu do nada, de que as
teorias físicas permitem isso,
não é nova. Resulta da junção entre teoria da relatividade e mecânica quântica", diz
Roberto Belisário, doutor em
física pela Unicamp.
No livro, Hawking se diz
defensor de uma das possíveis junções das duas teorias.
Segundo ela, haveria um
Multiverso -ou seja, infinitos universos, entre os quais
este aqui seria só mais um.
A existência do Multiverso
resolve, em tese, a estranha
coincidência de que o Universo conhecido parece ter
sido "regulado" para que estrelas, planetas e seres vivos
pudessem surgir. Se há infinitos universos, um deles,
inevitavelmente, teria condições pró-vida. Não há, contudo, indício direto da existência desses outros cosmos.
"No fim das contas, assim
como não é possível provar
pela ciência que Deus existe,
também não é possível provar que não existe -e nem
mesmo que ele é desnecessário", afirma Belisário.
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