São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

Próximo Texto | Índice

Ciência antártica custou R$ 25 mi ao país

Avaliação encomendada pelo governo considerou 23 anos de programa antártico; média foi de R$ 2.012 por pesquisa

No mesmo período, foram produzidos 1.300 trabalhos a partir de 540 projetos; programa chinês investe R$ 11 mi ao ano em pesquisa

Toni Pires - 13.dez.2001/Folha Imagem
Vista aérea da ilha Greenwhich, na Antártida, com Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, usado pelos cientistas brasileiros

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em termos de política pública de ciência, o Proantar (Programa Antártico Brasileiro) está longe de ser uma prioridade. A constatação vem de uma avaliação ainda preliminar patrocinada pelo próprio governo. O documento, obtido pela Folha, mostra que o Brasil, nos seus primeiros 23 anos de atuação na Antártida, entre 1983 e 2005, investiu apenas R$ 25 milhões em projetos de ciência.
Isso é praticamente a mesma coisa que o Chile investe, apesar de a economia daquele país andino ter ainda uma dimensão diferente da brasileira - pela lista do FMI, o Brasil é o 10º PIB do mundo e o Chile o 43º. Ou bem menos que os chineses investem: R$ 11 milhões por ano só em ciência.
"Este é um estudo inicial, que será complementado nos próximos meses. O que foi feito, com base em documentos oficiais, foi um grande banco de dados sobre o programa antártico", disse Antonio Teixeira, do CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), órgão de economia mista responsável por estudos e avaliações de grande vulto. O estudo sobre o Proantar foi encomendado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Na rubrica projetos de pesquisa costumam entrar gastos com pessoal, inclusive bolsas de estudo, com a viagem em si e com equipamentos e material de trabalho usados no dia-a-dia. A logística das campanhas brasileiras - gastos com navio, por exemplo, ou com a Estação Antártica Comandante Ferraz - ficaram fora do cálculo.
O montante de R$ 25 milhões fica ainda mais real quando colocado lado a lado com um outro número. De acordo com a mesma avaliação, nesses 23 anos, que tiveram 22 expedições à Antártida, foram financiados 540 projetos.
Caso a divisão anual do orçamento fosse feita de forma eqüitativa entre os trabalhos, cada equipe científica teria recebido apenas R$ 2.012 para trabalhar.

Como uma onda
Os gráficos do CGEE - o relatório, apesar de ainda não estar finalizado, foi recebido pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende - também mostra que a distribuição de verbas não seguiu um fluxo constante desde 1983.
Depois de um aporte importante de recursos nos dois primeiros anos do programa, da ordem de R$ 6 milhões, o orçamento ficou bastante baixo no período entre 1985 e 1990 (menos de R$ 500 mil por ano), quando ele voltou a subir.
Permaneceu abaixo de R$ 1 milhão nos anos 1990 e apenas mais recentemente entrou novamente na pauta governamental. Entre 2000 e 2005, foram investidos na ciência antártica quase R$ 10 milhões, na maior parte oriundos de um projeto do Ministério do Meio Ambiente para montar redes de pesquisa ambiental. Nos próximos dois anos, por causa do Ano Polar Internacional, outros R$ 8,5 milhões serão colocados no programa.
A análise do CGEE, por mais que mostre valores subnotificados -colaborações internacionais de grupos específicos, por exemplo, não foram rastreadas-, apresenta uma dimensão real dos recursos investidos na ciência antártica. Ela também mediu a produção científica gerada nas 22 campanhas. Diretamente, 1.300 trabalhos foram redigidos.
A biologia é a área mais beneficiada (48% da verba) e, por isso, a mais produtiva: tem 57% dos trabalhos, contra 30% das geociências, segunda colocada.


Próximo Texto: Ensino: Semana da Ciência começa em 341 cidades
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.