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Tatus arqueólogos rendem Ig Nobel a cientista da USP
Astolfo Araújo é o primeiro brasileiro a ganhar o Nobel da pesquisa esdrúxula
Suíça leva o prêmio da Paz por defender a dignidade
das plantas; americana, o
de Química, ao mostrar que Coca-Cola é espermicida
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Demorou, mas aconteceu.
Pela primeira vez na história
deste país, brasileiros foram
agraciados com o Ig Nobel, o
Nobel da pesquisa esdrúxula,
dado a estudos que "fazem você
rir e depois pensar".
A honra coube ao arqueólogo
Astolfo Araújo, da USP, e seu
colega José Carlos Marcelino,
do Departamento do Patrimônio Histórico de São Paulo,
"por demostrarem que tatus
são capazes de bagunçar sítios
arqueológicos". Por incrível
que pareça, o estudo é sério.
Em 2003, Araújo e Marcelino publicaram no periódico
"Geoarchaeology" um estudo
experimental que mostrava como o tatupeba (Euphractus sexicintus), ao cavar seus túneis,
consegue misturar camadas de
terra diferentes.
Isso num sítio arqueológico é
um potencial problemão, já que
nesse processo uma peça arqueológica depositada mais no
fundo (e, portanto, há mais
tempo) pode ser deslocada para
camadas mais jovens do sítio e
vice-versa, potencialmente induzindo o arqueólogo a erro.
A notícia sobre o estudo foi
publicada na Folha em maio de
2003, e fez este jornalista nomear Araújo como candidato
ao Ig Nobel ao humorista americano Marc Abrahams, editor
da revista "Anais da Pesquisa
Improvável" e organizador do
laurel de gozação. Abrahams
andava reclamando da falta de
candidatos brasileiros. Como
no Nobel de verdade, entre a
indicação e a premiação às vezes se passam alguns anos.
"Para mim é uma honra",
disse Araújo, que desconfiou
quando recebeu um e-mail de
Abrahams dizendo que queria
"discutir o trabalho". O pesquisador, no entanto, se declarou
surpreso com a premiação.
"Dentro desse ramo de arqueologia experimental, o que
a gente fez não é de outro mundo", contou. Ele lista experimentos como o de um grupo
argentino que enterrou cachorros sob tonéis de concreto
para ver como o peso dos sedimentos agia sobre os esqueletos. Ou o de um arqueólogo
americano, que lascava pedras
com as próprias mãos e depois
usava as lascas para cortar carne de elefante. A idéia era observar o desgaste do gume.
Mas ele não desdenha do potencial humorístico do próprio
trabalho -feito no Zôo de São
Paulo, dentro da jaula do tatu e
sob o olhar atento de dezenas
de crianças. "Os bastidores foram a parte mais divertida."
Entre os outros laureados,
que receberam o prêmio ontem numa concorrida cerimônia no Teatro Sanders da Universidade Harvard (EUA), está
Deborah Anderson, professora
de ginecologia da Escola de
Medicina da Universidade de
Boston. Em 1985, num estudo
no "New England Journal of
Medicine", ela mostrou que
não só a Coca-Cola tem efeito
espermicida como a Coca Diet
parece funcionar melhor ainda. Um grupo de médicos de
Taiwan divide com ela o prêmio, por mostrar que refrigerantes não são contraceptivos.
A porta-voz da Coca-Cola
não comentou a premiação.
O psicólogo Geoffrey Miller,
da Universidade do Novo México, levou na categoria Economia por um estudo publicado
em novembro passado na revista "Evolution and Human
Behavior". Nele, usando dados
de 18 voluntárias, ele mostrou
que dançarinas de striptease
ganham mais dinheiro no pico
de seu período fértil.
Araújo só lamenta não poder
ter comparecido à premiação,
em Cambridge, EUA. "Torrei
todo meu dinheiro de bolsa
[em viagens acadêmicas]. Como é que eu pediria dinheiro à
Fapesp para ir ao Ig Nobel?"
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