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Cães não lambem seus donos por amor
Mais do que uma demonstração de carinho e saudade, "beijos" servem para obter relatório sobre onde ele esteve
Paladar e olfato são mais cruciais para os cães do que a visão, diz cientista dos EUA em livro recém-lançado
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Pode ser poético dizer que
um cão encheu seu dono de
beijos quando ele voltou de
viagem, mas a realidade, estão descobrindo os cientistas, não é assim tão fofa.
Isso porque cachorros são
extremamente sensíveis a
cheiros e sabores -coisas tão
importantes para eles quanto
a comunicação verbal ou a
visão para os humanos.
Assim, quando um dono
volta da rua cheio de novos
cheiros e gostos, seja da mão
daquele colega de trabalho
que foi cumprimentado ou
da sujeira do banco de metrô
em que sentou, ele está oferecendo ao seu cachorro um
festival de sensações.
Se seu cão quer saber por
onde você andou, isso significa, claro, que ele vê algo de
especial em você. Mas eles
gostam de cheirar e lamber
mesmo desconhecidos.
"Saber do papel do odor
para eles mudou minha forma de pensar sobre a maneira alegre com que minha cachorra cumprimentava um
visitante, indo diretamente
na região genital dele", diz
Alexandra Horowitz, da Universidade Columbia (EUA).
O comportamento da cachorra de Horowitz, que está
lançando no Brasil o livro "A
cabeça do cachorro" (BestSeller), faz todo sentido, diz.
As regiões genitais, assim
como a boca e os sovacos,
produzem muitos odores -e
logo ensinamos às crianças a
importância de lavá-las bem.
Estando a boca e os sovacos
geralmente mais distantes do
cachorro, não é difícil imaginar que área ele vai atacar.
"Não deixar que um cão
cheire um visitante equivale,
entre humanos, a vendar-se
na hora de abrir a porta para
um estranho", diz a cientista.
Para um cão, cada pessoa
tem um cheiro inconfundível, o que faz com que eles
nos identifiquem pelo odor.
Humanos conseguem usar o
nariz para saber, por exemplo, se alguém fumou, mas
cachorros vão muito além.
Eles podem saber se você
fez sexo, e até saber quem e
quantas pessoas estavam
junto. Ao se aproximar da
sua boca, conseguem identificar o que você comeu.
Mais do que isso, cachorros sentem cheiro de medo.
"Gerações de crianças foram alertadas para nunca
mostrar medo diante de um
cão estranho", diz Horowitz.
Não era à toa. Quando assustados, suamos, e o odor
do nosso corpo entrega o pavor. Além disso, a adrenalina
é inodora para nós, mas não
para bichos de faro aguçado.
O olfato dos animais é tão
bom que os cientistas querem utilizá-los na medicina.
Um estudo treinou cães
para reconhecer a urina de
pacientes com câncer. Os
cientistas se assustaram. Os
cães aprenderam a "diagnosticar" a doença: só erram 14
vezes em 1.272 tentativas.
Não se sabe direito quais
substâncias eles aprenderam
a reconhecer, mas alguns
cientistas propõem "cães
doutores" -pelos estudos
feitos, eles acertam mais que muitos doutores humanos.
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