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Pescadores de atum, em ação no Pacífico, terão prejuízo |
Pesca comercial vai acabar em 2048, indica projeção
Captura excessiva de peixes e frutos do mar já comprometeu 29% das espécies
Estudo que reuniu dados
globais indica que áreas de
maior biodiversidade, como
o litoral brasileiro, têm mais
chance de se recuperar
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A pesca comercial marinha
do mundo inteiro pode acabar
em 2048 devido à captura de
peixes em um ritmo maior do
que os animais conseguem se
reproduzir, indica um grupo internacional de cientistas. De
acordo com estudo divulgado
ontem, até agora 29% das espécies de pescado já entraram em
colapso -a produção delas caiu
90% em 50 anos-, e deve acontecer o mesmo com outras.
Segundo a estimativa, publicada hoje na revista "Science"
(www.sciencemag.org), resta
pouco tempo para tentar reverter a situação e evitar o colapso
total das espécies marinhas de
interesse comercial.
Para estipular a data fatídica,
os cientistas abriram mão de
modelos matemáticos e analisaram 32 experimentos marinhos que manipularam a diversidade de espécies em diferentes escalas. O estudo também
trabalhou com dados históricos de pesca relativos aos últimos mil anos, obtidos em 12
zonas costeiras, e com resultados tabulados pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) em 64 grandes ecossistemas marinhos, incluindo os da
costa do Brasil.
"Estou muito feliz com a metodologia. Nós usamos diferentes fontes de informação", disse à Folha Boris Worm, biólogo da Universidade Dalhousie,
no Canadá, um dos autores do
estudo. "Mostramos que quando espécies são perdidas, a produtividade e a estabilidade do
ecossistema também se perde."
Segundo Worm, não é apenas a produção de alimento
(pescado ou frutos do mar) que
está sob ameaça (veja quadro à
direita). "Os ecossistemas também tendem a ficar menos protegidos às ondas de choque
causadas, por exemplo, pela extração excessiva de uma determinada espécie ou mesmo pelas mudanças climáticas", assegura o pesquisador.
O fato de as espécies de peixes, moluscos e crustáceos funcionarem como cartas do castelo oceânico é conhecido dos
pesquisadores. Para Silvio Jablonski, biólogo marinho da
Uerj (Universidade Estadual
do Rio de Janeiro), o estudo
publicado agora torna essas relações mais evidentes.
Pobre mar brasileiro
"O artigo comprova com análises de experimentos e séries
de dados em diversas escalas
que a perda de serviços ambientais [benefícios da natureza ao homem] e a baixa produtividade estão relacionadas à
redução da diversidade", explica Jablonski. Para ele, apesar
de o mar brasileiro ser rico em
biodiversidade, característica
encontrada nas zonas tropicais
do planeta, a situação aqui está
longe de ser positiva. "A nossa
pobreza está na capacidade de
sustentar grandes biomassas
de recursos", afirma.
Também para Worm, o caso
merece cuidado. "A costa brasileira pode ser bem produtiva.
Entretanto, o manejo das espécies precisa ser cuidadoso. Deve-se ter certeza de que nenhuma espécie será perdida", disse.
No caso da sardinha brasileira, por exemplo, essa atenção
não existiu. O conhecimento
científico gerado recentemente
pode explicar o que ocorreu
com ela. "Após sofrer uma
pressão pesqueira intensa, parece que a espécie está suscetível às variações das condições
oceanográficas. O problema
tem aparecido no período da
desova", segundo Jablonski.
Diante desse quadro "depressivo", como classificou Worm, a
boa notícia é que ainda existe
tempo hábil para que a situação
mundial possa ser revertida.
A pesquisa, que também analisou a situação de 48 áreas marinhas protegidas, em diferentes parte do mundo, mostrou
que áreas fechadas ao homem
estão mais equilibradas. Nesses
locais, além da produtividade
das espécies ter crescido quatros vezes, os ecossistemas estão, em média, 21% mais protegidos contra desequilíbrios.
Nas áreas com mais diversidade, como são as do Brasil, os
resultados mostram ainda que
a regeneração das populações
marinhas tende a ser mais fácil.
"As áreas mais sensíveis precisam ser fechadas ao uso humano, mas boa parte do oceano
ainda pode ser usado, desde
que sejamos organizados para
fazermos isso", afirma Worm.
Veja números da pesca mundial www.fao.org/fi
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