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PALEONTOLOGIA
Nova espécie herbívora de 225 milhões de anos é um parente primitivo das maiores criaturas terrestres
Gaúcho encontra avô dos dinos gigantes
KATIA CALSAVARA
DA SUCURSAL DO RIO
Foi apresentado ontem no Museu Nacional, no Rio, o primeiro
dinossauro do grupo dos prossaurópodes encontrado no Brasil.
Trata-se de uma espécie, a Unaysaurus tolentinoi, que teria vivido
no final do Período Triássico, há
cerca de 225 milhões de anos.
Herbívoro, bípede, de corpo volumoso e cabeça pequena, tinha
cerca de 2,5 m de comprimento.
Os prossaurópodes são dinossauros herbívoros primitivos, que
estão na raiz do grupo que originou os saurópodes (herbívoros
pescoçudos), os maiores animais
terrestres que já existiram.
Até então, exemplares desse
mesmo grupo, considerado um
dos mais antigos do mundo, haviam sido encontrados em vários
países, principalmente os da Europa e Ásia, além da Argentina.
No Brasil, não havia ainda registro do grupo. Características do
crânio e do corpo do animal o ligam à família de dinossauros europeus da família Plateosauridae.
Para os paleontólogos, o parentesco reforça a idéia da existência
da Pangéia, a grande massa continental que, no Triássico, unia todas as terras emersas do planeta.
Batizado como "Dinossauro de
Água Negra", o Unaysaurus tolentinoi ("unaí" significa água negra, em tupi) possui o crânio mais
completo encontrado até hoje no
país. O fato de o animal ter depressões características em ossos
do crânio e no maxilar, além de
uma crista no úmero, o classifica
como sendo de uma nova espécie.
"Supõe-se que o final do Triássico tenha sido uma época de importantes mudanças climáticas. É
considerada a época do início da
separação dos continentes. Temos o registro de canais fluviais e
rochas que indicam planícies de
inundação e áreas marginais onde
viviam os animais", diz Átila da
Rosa, paleontólogo do Departamento de Geociências da UFMS
(Universidade Federal de Santa
Maria), do Rio Grande do Sul.
Bocha
O fóssil foi encontrado em 1998
pelo aposentado Tolentino Marafiga enquanto ele caminhava para
mais um dia de jogo de bocha, na
pequena localidade de Água Negra, por um trecho que liga os
municípios de São Martinho da
Serra e Santa Maria (RS).
Marafiga, ao ver algo estranho
na estrada, que passava por obras,
contatou os pesquisadores da
UFSM. Não deu outra. Por ali não
passariam mais tratores. A equipe
começou uma rápida escavação
no local, que durou três dias, e levou a rocha na qual foram encontrados os fósseis para análise.
A coleta dos fósseis foi iniciada
pelos biólogos Luciano Artemio
Leal e Rubem Alexandre Boelter,
que se uniram aos pesquisadores
da universidade e ao Museu Nacional. "As descobertas de fósseis
são diversas, mas poucas até hoje
colocaram o Brasil no cenário da
pesquisa paleontológica como esta", afirma Sérgio Alex Azevedo,
diretor do Museu Nacional.
O estudo foi divulgado após a
publicação da pesquisa na revista
"Zootaxa", da Nova Zelândia. Segundo os pesquisadores, a área
central do Rio Grande do Sul é reconhecida mundialmente por
fósseis de dinossauros. Lá, na formação rochosa Santa Maria, já foram encontrados dois dos dinossauros mais antigos do mundo, o
bípede predador Staukirosaurus
pricei e o sauropodomorfo basal
Saturnalia tupiniquim, o primeiro membro da linhagem dos gigantes pescoçudos.
A idade, as características primitivas dos fósseis e a quantidade
de espécies no Triássico de Santa
Maria e na formação Ischigualasto, noroeste da Argentina, levam
paleontólogos a crer que os dinossauros tenham se originado na
porção sul da América do Sul.
Alexander Kellner, coordenador do setor de paleovertebrados
do Museu Nacional, explica que
este é o 11º dinossauro encontrado no Brasil. O fóssil e sua representação estarão expostos no Museu Nacional a partir de amanhã.
MUSEU NACIONAL
Exposição de nova espécie de dinossauro
encontrada no Brasil. Onde: Quinta da
Boa Vista, s/nº, Rio de Janeiro. De terça a
domingo, das 10h às 16h, tel. 0/xx/21/
2568-8262. R$ 3.
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