São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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PALEONTOLOGIA

Nova espécie herbívora de 225 milhões de anos é um parente primitivo das maiores criaturas terrestres

Gaúcho encontra avô dos dinos gigantes

KATIA CALSAVARA
DA SUCURSAL DO RIO

Foi apresentado ontem no Museu Nacional, no Rio, o primeiro dinossauro do grupo dos prossaurópodes encontrado no Brasil. Trata-se de uma espécie, a Unaysaurus tolentinoi, que teria vivido no final do Período Triássico, há cerca de 225 milhões de anos. Herbívoro, bípede, de corpo volumoso e cabeça pequena, tinha cerca de 2,5 m de comprimento.
Os prossaurópodes são dinossauros herbívoros primitivos, que estão na raiz do grupo que originou os saurópodes (herbívoros pescoçudos), os maiores animais terrestres que já existiram.
Até então, exemplares desse mesmo grupo, considerado um dos mais antigos do mundo, haviam sido encontrados em vários países, principalmente os da Europa e Ásia, além da Argentina.
No Brasil, não havia ainda registro do grupo. Características do crânio e do corpo do animal o ligam à família de dinossauros europeus da família Plateosauridae. Para os paleontólogos, o parentesco reforça a idéia da existência da Pangéia, a grande massa continental que, no Triássico, unia todas as terras emersas do planeta.
Batizado como "Dinossauro de Água Negra", o Unaysaurus tolentinoi ("unaí" significa água negra, em tupi) possui o crânio mais completo encontrado até hoje no país. O fato de o animal ter depressões características em ossos do crânio e no maxilar, além de uma crista no úmero, o classifica como sendo de uma nova espécie.
"Supõe-se que o final do Triássico tenha sido uma época de importantes mudanças climáticas. É considerada a época do início da separação dos continentes. Temos o registro de canais fluviais e rochas que indicam planícies de inundação e áreas marginais onde viviam os animais", diz Átila da Rosa, paleontólogo do Departamento de Geociências da UFMS (Universidade Federal de Santa Maria), do Rio Grande do Sul.

Bocha
O fóssil foi encontrado em 1998 pelo aposentado Tolentino Marafiga enquanto ele caminhava para mais um dia de jogo de bocha, na pequena localidade de Água Negra, por um trecho que liga os municípios de São Martinho da Serra e Santa Maria (RS).
Marafiga, ao ver algo estranho na estrada, que passava por obras, contatou os pesquisadores da UFSM. Não deu outra. Por ali não passariam mais tratores. A equipe começou uma rápida escavação no local, que durou três dias, e levou a rocha na qual foram encontrados os fósseis para análise.
A coleta dos fósseis foi iniciada pelos biólogos Luciano Artemio Leal e Rubem Alexandre Boelter, que se uniram aos pesquisadores da universidade e ao Museu Nacional. "As descobertas de fósseis são diversas, mas poucas até hoje colocaram o Brasil no cenário da pesquisa paleontológica como esta", afirma Sérgio Alex Azevedo, diretor do Museu Nacional.
O estudo foi divulgado após a publicação da pesquisa na revista "Zootaxa", da Nova Zelândia. Segundo os pesquisadores, a área central do Rio Grande do Sul é reconhecida mundialmente por fósseis de dinossauros. Lá, na formação rochosa Santa Maria, já foram encontrados dois dos dinossauros mais antigos do mundo, o bípede predador Staukirosaurus pricei e o sauropodomorfo basal Saturnalia tupiniquim, o primeiro membro da linhagem dos gigantes pescoçudos.
A idade, as características primitivas dos fósseis e a quantidade de espécies no Triássico de Santa Maria e na formação Ischigualasto, noroeste da Argentina, levam paleontólogos a crer que os dinossauros tenham se originado na porção sul da América do Sul.
Alexander Kellner, coordenador do setor de paleovertebrados do Museu Nacional, explica que este é o 11º dinossauro encontrado no Brasil. O fóssil e sua representação estarão expostos no Museu Nacional a partir de amanhã.


MUSEU NACIONAL
Exposição de nova espécie de dinossauro encontrada no Brasil. Onde: Quinta da Boa Vista, s/nº, Rio de Janeiro. De terça a domingo, das 10h às 16h, tel. 0/xx/21/ 2568-8262. R$ 3.



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