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Sonda vê lagos de metano líquido em lua de Saturno
Satélite natural Titã pode ter também chuva e reserva subterrânea da substância
Brasileira que participou da missão diz que o metano, principal componente do
gás natural na Terra, pode estar em vulcões em Titã
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das luas de Saturno, Titã, tem lagos e também tem
chuva, dizem cientistas que estudaram imagens de radar da
sonda espacial Cassini. Isso
torna Titã ainda mais parecido
com a Terra do que se imaginava. O satélite natural tem também uma atmosfera densa e
vulcões, e pesquisadores acreditam que ele lembre a Terra
primitiva -de bilhões de anos
atrás, antes de a vida surgir.
A grande diferença é que a
chuva que ajuda a preencher os
lagos de Titã é composta de metano, molécula com um átomo
de carbono e quatro de hidrogênio (fórmula química CH4). E
os vulcões lançam lava gelada
na superfície do satélite.
"Nós vemos lagos que têm
canais levando a eles, sugerindo que eles se enchem pelo menos parcialmente por uma
combinação de infiltração e
chuva", disse à Folha a principal autora do estudo, Ellen Stofan, do instituto Proxemy Research, da Virgínia (EUA).
Outra possível fonte do líquido nos lagos estaria debaixo da
superfície, como aqüíferos -ou
"metaníferos", como a eles se
referem os pesquisadores.
Stofan e 37 colegas assinam
um artigo descrevendo a descoberta na edição de hoje da revista "Nature", cuja capa é uma
imagem de radar mostrando os
lagos. Todo esse pessoal pertence à equipe da sonda Cassini. "Às vezes recebo de dez a
vinte e-mails por hora da equipe enquanto discutimos as interpretações do que vimos nos
dados de radar", diz Stofan.
Vulcanismo
"Esses lagos estão em depressões que podem ser crateras vulcânicas", afirma a pesquisadora brasileira Rosaly Lopes, que trabalha com o radar
da Cassini no Laboratório de
Propulsão a Jato da Nasa
(agência espacial americana),
em Pasadena, na Califórnia.
"As crateras causadas por
impactos são bem diferentes:
em geral são bem redondas, simétricas", diz a pesquisadora,
brasileira radicada nos EUA.
Lopes é tanto astrônoma
quanto especialista em vulcões,
o que contribui para torná-la
uma das principais especialistas na vulcanologia de outros
planetas e seus satélites.
A descoberta dos lagos, que
aparecem como manchas escuras e lisas nas imagens de radar, foi feita em uma
passagem da Cassini por Titã
em julho de 2006.
Como a lua tem uma atmosfera densa, o radar é a melhor
maneira de mapeá-la, pois pode fazer imagens do que está
debaixo das nuvens.
"Mas como a sonda precisa
passar muito perto, só dá para
ver de 1% a 2% da superfície",
diz Lopes. "Faixinha por faixinha, vamos vendo cada vez um
pouco mais da superfície", afirma a pesquisadora.
O radar da Cassini já fez cerca de vinte passagens por Titã
registrando essas faixas, em
torno de metade do previsto
pela missão dessa sonda desenvolvida em conjunto pela Nasa
e pela ESA, a agência espacial
européia.
A próxima vai ser na semana
que vem, no dia 13. "Vai ser
muito interessante para mim",
declara Lopes, pois a sonda deverá completar a imagem de
um monte com forma circular
que pode ser um vulcão.
A passagem que revelou os
lagos detectou 75 manchas escuras de vários tamanhos, de 3
km a 70 km de comprimento.
O radar da Cassini auxiliado
por outros instrumentos -como um espectrômetro que produz imagens de luz visível e infravermelha- descobriu crateras, montanhas, vulcões, dunas
e leitos de rios debaixo do véu
da atmosfera.
Mesmo assim, apenas 15% da
superfície será mapeada. Saber
mais sobre a lua -e confirmar
sua "chuva de metano"- "é um
tópico importante para a extensão da missão a partir de julho de 2008", disse à Folha o
pesquisador Christophe Sotin,
da Universidade de Nantes,
França, autor de um comentário sobre a descoberta dos lagos
na mesma edição da "Nature".
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