|
Próximo Texto | Índice
Sequestro de CO2 encara falta de dinheiro
Sem atrair investimento privado, projetos brasileiros testados com sucesso não ganham escala fora das universidades
Ricardo Stuckert - 18.dez.2006/Presidência da República
|
|
Termelétrica Cristiano Rocha, no AM, emite fumaça; captura de CO2 reduziria impacto de usinas
Para cientistas, ausência de
marco regulatório e de uma
legislação ambiental mais
dura atrapalham captação
de recursos com empresas
BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Visto como um dos principais meios de contenção do
aquecimento global, projetos
de sequestro de CO2 ganham
corpo nos laboratórios de universidades brasileiras, mas ainda enfrentam ausência de
"feedback" do poder público e
de investimentos privados.
A Folha localizou com o
CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) ao menos 39 projetos de pesquisa em andamento em 18 instituições brasileiras, com desenvolvimento de
novos mecanismos para o sequestro de carbono.
Ainda não há, porém, aplicação em larga escala de tecnologia criada nessas universidades. Os mecanismos são testados, com sucesso, nos laboratórios. Mas, para escalas maiores,
é preciso muito mais dinheiro.
No momento, os projetos
mais promissores vêm da Petrobras, que passou a financiar,
há três anos, a Rede Temática
de Sequestro de Carbono e Mudanças Climáticas. Um centro
de excelência na área foi criado
no Rio Grande do Sul a partir
dos recursos da estatal.
Apesar de os investimentos
serem uma obrigação contratual decorrente da exploração
do petróleo, a estatal é, de longe, que mais financia pesquisas. Diz já ter investido R$ 30
milhões (leia texto ao lado).
A cientista da UFRJ Ofélia
Araújo, que desenvolve mecanismos de captura de CO2 por
microalgas, diz que o caminho
para um maior investimento
privado em pesquisas passa por
um endurecimento da legislação ambiental, que "incentive"
mais financiamento.
Outra tentativa foi feita pela
Capes, outro órgão de fomento
a pesquisadores, ao lançar, em
2008, um edital baseado em renúncia fiscal por parte de empresas. Mas não teve sucesso.
Segundo Ofélia, "pouquíssimas" empresas aderiram.
"O que precisa ser mudado é
a mentalidade empresarial no
Brasil. Só a Petrobras tem essa
mentalidade de pesquisa. Outras querem, mas não muito.
Elas precisam entrar com mais
vontade, e isso vai decorrer de
uma exigência do governo."
Marco regulatório
Um outro ponto, que passa
pelo governo, é levantado pelo
gestor da Rede Temática de Sequestro de Carbono, Marco Ziliotto. A viabilidade do processo de sequestro de carbono, diz,
depende da definição de um
marco regulatório para o processo de armazenamento.
Sabe-se que aquíferos salinos, no fundo dos oceanos, são
um dos meios possíveis de armazenamento. Mas, hoje, ninguém pode enterrar carbono
no subsolo porque não há legislação específica para isso.
Uma regulação resolveria
problemas que vão desde parâmetros de segurança até os royalties a serem pagos aos territórios afetados. A Austrália já
tem legislação a respeito.
"Como é um processo muito
caro, ninguém quer ser obrigado a fazer. Se eu for obrigado,
eu quero que as regras estejam
claras e que eu possa até tirar
um benefício disso", afirma
Marco Ziliotto, sugerindo a
conversão do armazenamento
em créditos de carbono.
Próximo Texto: Por contrato, Petrobrás tem de investir Índice
|