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Lotada, estação de pesquisa antártica causa impacto
Esgoto, ruído e poluição criados pela presença humana afetam o frágil ecossistema local, que já sofre com o aquecimento global
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL À ANTÁRTIDA
O crescimento urbano desordenado não é uma preocupação
apenas de metrópoles como
São Paulo. Na península Antártica, um dos ecossistemas mais
frágeis do mundo, gerenciar
"microcidades" como a estação
de pesquisas Comandante Ferraz é um desafio -e qualquer
meia dúzia de pessoas a mais no
local já faz diferença.
"O plano diretor que nós fizemos para Ferraz infelizmente
não está sendo cumprido", diz a
arquiteta Cristina Engel, da
Universidade Federal do Espírito Santo. Especialista em
construções em lugares inóspitos, a pesquisadora estuda como garantir que a estrutura de
Ferraz e dos refúgios que o Brasil tem espalhados pelo arquipélago das Shetlands do Sul tenham impacto ambiental próximo do zero.
Segundo Engel, uma das premissas do plano é que não deveria haver aumento no número
de ocupantes da estação, planejada para acomodar até 60 pessoas. Neste ano, foram 64, com
gente "morando" nos refúgios,
pequenos módulos espalhados
pela baía do Almirantado, coisa
que não deveria ocorrer.
"Ferraz não pode mais crescer", diz. "Temos esgoto, ruído,
poluição do ar e, principalmente, a alteração na paisagem."
A presença humana, o aquecimento global e a fragilidade
intrínseca do ecossistema polar
compõem um quadro perigoso
para o equilíbrio dos ciclos naturais antárticos.
Por isso, entre os cientistas
que trabalham em Ferraz, o sinal de atenção está aceso. "Toda poluição começa pequena,
mas depois ela vai crescendo.
Os grandes problemas são
aqueles que não foram resolvidos no momento correto", afirma Edson Rodrigues, da Unitau
(Universidade de Taubaté).
"A poluição hoje é pontual.
No caso do esgoto [tratado antes de ser lançado no mar], ela
atinge o entorno da estação
[menos de cem metros]."
Frágil
O grande problema é que a
relação entre seres vivos na Antártida é delicada, o que pode
agravar a situação.
Quase todos, direta ou indiretamente, dependem do krill,
um pequeno crustáceo que vive
na coluna d'água e serve de comida para baleias e pinguins.
As espécies que dependem
do krill têm sofrido com o degelo acelerado na península (resultado da mudança climática),
que espanta os cardumes.
A presença humana só piora
a situação dos animais. As nove
estações da baía que margeia a
ilha Rei George chegam a abrigar aproximadamente mil pessoas entre novembro e abril,
período de verão.
Ferraz tem tido um desempenho ambiental acima da média das outras estações. Ainda
assim, queima em média mil litros de óleo diesel ao dia.
As cintas térmicas, usadas
para que as tubulações que trazem água dos dois lagos de
abastecimento não congelem,
são as grandes vilãs do consumo energético. A modernização das resistências usadas nos
canos anticongelantes seria o
ideal, diz Engel.
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