São Paulo, terça-feira, 04 de janeiro de 2011

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Bioinvasor pode causar megaextinção

Análise de grande sumiço de espécies há 360 milhões sugere que animais exóticos tomaram o lugar de nativos

Processo teria sido causado pela perda de barreiras geográficas; espécies invasoras são problema grave hoje

Ilustração Sandro Castelli
O ambiente marinho abrigava uma rica fauna de peixes e invertebrados

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA

Esqueça os meteoritos, os supervulcões ou os raios gama do espaço. Uma nova pesquisa diz ter flagrado a causa de uma das maiores extinções do passado, e ela é bem menos apocalíptica: uma invasão biológica.
Esse tipo de invasão é cada vez mais comum hoje, quando a ação humana carrega cada vez mais espécies exóticas para todos os cantos da Terra. Essas espécies, sem inimigos naturais, viram pragas quase incontroláveis, substituindo plantas e bichos nativos com folga.
Daí a importância do novo estudo, assinado por Alycia Stigall, da Universidade de Ohio (EUA). Ao estudar a extinção em massa do fim do Devoniano, fase da história do planeta que terminou há cerca de 360 milhões de anos, a pesquisadora mostrou que espécies invasoras podem desestabilizar os mecanismos que garantem a saúde da biodiversidade.
A megaextinção do Devoniano faz parte da tradicional lista das "Big Five", os cinco grandes sumiços de espécies que já atingiram a Terra (leia mais no texto à direita).

MAR DE PROBLEMAS
No caso do Devoniano, os fósseis mostram que a catástrofe atingiu principalmente os mares. Cerca de 70% dos animais marinhos teriam sumido, entre as quais gigantescos recifes de coral, formados por espécies totalmente diferentes das atuais.
O esquisito, no entanto, é que análises recentes andavam apontando uma taxa de sumiço de espécies (por unidade de tempo) não muito diferente da normal nos oceanos dessa época. Alguma coisa, portanto, não batia.
Para explicar a discrepância, Stigall analisou levantamentos de várias espécies de bichos marinhos, entre os quais moluscos bivalves (com duas conchas, como as ostras e os mariscos), braquiópodes (também criaturas de concha, mas que não são moluscos) e crustáceos predadores, primos distantes de siris e caranguejos.
Ao examinar o que acontecia com as espécies ao longo do tempo, a pesquisadora percebeu que, na verdade, não foi a taxa de extinção que aumentou: foi a de surgimento de espécies novas que diminuiu. Além disso, havia um padrão geográfico nisso tudo que, segundo Stigall, ajudou a entender o mistério.
É que, entre os caminhos mais comuns para o surgimento de uma espécie, está o aparecimento de barreiras entre dois grupos de animais (um novo rio ou uma nova cadeia de montanhas, por exemplo). Essas populações ficam separadas, não cruzam mais entre si e, com o tempo, viram espécies distintas.
Quando um cientista observa fósseis ao longo do tempo, esse tipo de evento fica claro se primeiro há só um tipo de fóssil e, mais tarde, dois tipos "filhos" ocupando áreas geográficas menores. E é exatamente isso que some no fim do Devoniano.
A explicação: eventos geológicos, de fato, cortaram as barreiras entre espécies nesse período. Para todos os efeitos, os oceanos do mundo viraram uma coisa só, de forma que espécies exóticas invadiram o território de outras com facilidade.
Resultado: concorrência desleal, da qual poucas criaturas muito versáteis saíram vitoriosas, fazendo a biodiversidade marinha encolher.
O estudo está na revista científica "PLoS One" e pode ser lido de graça na internet.


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