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ASTRONOMIA
Grãos enterrados em meteoritos contam a vida de astros que cederam material à formação do Sistema Solar
Poeira estelar revela antepassada do Sol
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem gosta de mistérios, é
um prato cheio. Essas estrelas
nasceram, viveram, morreram e
há muito foram perdidas. Seus
restos encontraram abrigo na nuvem de gás e poeira que mais tarde daria origem ao Sol e a seus
planetas. O que se pode dizer a
respeito desses astros imersos no
esquecimento? O químico Michael Savina procura as respostas
dentro de um meteorito.
Os segredos estão encerrados
num fragmento de rocha espacial
caída na Terra por acidente, formada durante a época em que o
Sistema Solar nasceu, cerca de 4,7
bilhões de anos atrás. Trabalhando no Laboratório Nacional de
Argonne, EUA, Savina e seus colegas procuram pequenos grãos
de poeira estelar de carboneto de
silício que possam estudar. Esses
grãos foram formados no interior
de outras estrelas, que hoje nem
estão mais por aí.
"Essas estrelas cuspiam uma
porção de matéria e parte dela foi
parar na nuvem que depois formou o Sol", diz o cientista. Com
isso, acabou integrada a alguns
corpos antigos do Sistema Solar e
preservada em seu interior.
O trabalho de Savina é tirá-la do
interior do meteorito e trazê-la
para a luz, revelando dados sobre
as estrelas que antes habitaram
essa região do espaço e ajudando
a entender como esses astros fazem para produzir núcleos atômicos pesados a partir de elementos
mais leves -processo a que se dá
o nome de nucleossíntese.
O estudo fez pela primeira vez
uma análise específica da presença de um elemento pesado chamado rutênio nos grãos de poeira
estelar. Comparando a presença,
em diferentes proporções, de várias versões do átomo (com mais
ou menos nêutrons), chegaram à
conclusão de que os grãos haviam
pertencido a gigantes vermelhas,
não muito diferentes do que o Sol
será em 5 bilhões de anos.
"Eram bem parecidas com o
Sol, mas maiores. Não muito, coisa de duas vezes", diz Savina.
Os resultados foram compatíveis com os obtidos por outros
cientistas a partir da análise de
outros elementos químicos também extraídos de grãos de poeira
estelar, como molibdênio e zircônio. Ajudaram a confirmar os
modelos que indicam como ocorreria a nucleossíntese em estrelas
desse tipo. Mas o grupo agora
busca refinar ainda mais sua técnica, para passar a trabalhar na
busca por átomos de chumbo.
"O chumbo serve como um cronômetro, que podemos usar para
datar a época em que esses grãos
foram formados", diz Savina. Seria uma maneira de descobrir
quando essas estrelas precursoras
do Sol viveram e morreram.
A chave do "cronômetro atômico" é que o chumbo na verdade é
uma versão do urânio, mais pesado, que perdeu prótons. Esse processo de decaimento radiativo
acontece num ritmo extremamente lento, comparável ao tempo de vida das estrelas. Comparando as quantidades de urânio e
chumbo presentes nesses grãos,
seria possível dizer exatamente
quando eles foram forjados.
Savina já fez algumas tentativas,
mas não teve sucesso. "Até agora,
o que aprendemos é que não temos equipamento para detectar
as quantidades diminutas de
chumbo necessárias", diz, rindo.
"Estamos desmontando todo o
equipamento no laboratório, para
torná-lo 30 vezes mais potente. Aí
faremos uma nova tentativa e talvez tenhamos mais sorte."
Outra coisa que pode ser investigada sobre o passado pré-solar é
o evento que levou à condensação
do Sol. "Nos modelos, a não ser
que alguma coisa aconteça, normalmente a nebulosa não entra
em colapso e não forma uma estrela", explica o pesquisador.
"Pode ser que a ejeção de matéria de estrelas AGB [tipo de gigante vermelha] sirva como gatilho.
Os resultados mais novos apontam para as supernovas. Mas isso
é algo ainda muito debatido."
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