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Governo descarta reduzir reserva legal na Amazônia
Secretário rejeita negociar lei que impede produtor de desmatar 80% de sua terra
Mudança seria "catástrofe", diz João Paulo Capobianco, que defende a reação do presidente Lula ao aumento da devastação na Amazônia
José Cruz/Agência Brasil
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O secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco |
CLAUDIO ANGELO
EM BRASÍLIA
O secretário-executivo do
Ministério do Meio Ambiente,
João Paulo Capobianco, tem
um recado para os produtores
rurais da Amazônia: o governo
não está disposto a negociar a
redução da reserva legal nas
propriedades rurais em área de
floresta para menos de 80%.
É crescente a pressão da
agroindústria para que seja
"flexibilizada" a lei que determina que apenas 20% da área
de uma fazenda possa ser desmatada. Segundo produtores,
esse limite torna fazendas economicamente inviáveis.
Até o começo do segundo semestre de 2007 a derrubada na
Amazônia vinha caindo. Na semana retrasada, no entanto, o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais estimou que o
desmatamento de agosto a dezembro poderia ter alcançado
7.000 km2, o que causou reações fortes por parte do do governo de Mato Grosso e fez o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva mandar o Inpe conferir os
dados em campo.
Capobianco, no entanto, defende Lula e atribui as dúvidas
do presidente às "informações
que ficam circulando pela imprensa". Leia entrevista que o
secretário concedeu à Folha:
FOLHA - Quando o Inpe dizia que o
desmatamento estava caindo, ninguém questionava. Por que essa celeuma em torno do dado agora?
JOÃO PAULO CAPOBIANCO - Primeiro, em função do fato de que
existem mais dados atualmente. A Amazônia ganhou, nos últimos anos, dois novos sistemas [de detecção de desmate].
Em 2004 ganhou o Deter, do
Inpe, e em 2005 ganhou o SAD,
do Imazon. E os próprios órgãos estaduais também estão
produzindo dados. Agora, independentemente de considerarmos que o debate é importante
e que é bom que esses dados sejam discutidos, é evidente que
existe um certo movimento para desviar a questão central do
debate, que é uma mudança na
curva descendente, e questionar dado neste momento é uma
forma de tentar relativizar as
ações do governo.
FOLHA - Certo movimento por parte de quem? Do setor produtivo?
CAPOBIANCO - Eu acredito sinceramente que todos foram pegos de surpresa.
FOLHA - Mas no meio do ano o
Imazon já tinha soltado o dado de
que o desmate havia crescido.
CAPOBIANCO - Nós operamos
com o dado do Deter. Para nós,
até 30 de julho, são dados computados no Prodes [sistema de
detecção anual do desmate] do
ano passado. Comparando
agosto de 2007 com agosto de
2006 no Deter, tem redução.
Comparando setembro de
2007 com setembro de 2006
pelo Deter, também tem redução. O aumento começa a aparecer em outubro.
FOLHA - Por que o presidente mandou rechecar os números?
CAPOBIANCO - Não se trata de
uma rechecagem. O que o presidente manifestou desde o início é que precisa olhar esse desmatamento e ver o que está
acontecendo. Qual é o fator
motivador desse processo.
FOLHA - Mas o fator estava claro.
CAPOBIANCO - Para nós estava.
Mas nós não tínhamos uma ida
a campo do ministério que pudesse ser um tira-teima...
FOLHA - Mas nunca se precisou de
tira-teima. Apesar de o Deter não
servir para cálculo de área, ele tem
sido usado para dar estimativas de
desmatamento desde 2005, quando a taxa começou a cair. Por que
agora é preciso checar em campo?
CAPOBIANCO - Primeiro, quando
a gente elaborou o Deter, foi para um monitoramento preventivo. Realmente não era cômputo de área. Mas, a partir de
2004, nas comparações que foram feitas com 2004, o Deter
permitiu gerar uma estimativa.
E a geração dessa estimativa
passou a ser importante porque o Prodes não tem como ficar pronto a ponto de fazer projeções enquanto a coisa está
ocorrendo. Nosso acordo com o
governo foi que o Prodes passasse a dar uma estimativa no
mesmo ano do desmatamento,
e a confirmação no ano seguinte. Agora, o dado parcial do Deter nós nunca tínhamos lançado. Estamos lançando agora
porque houve uma reversão.
Agora, com relação ao presidente, em nenhum momento
ele falou: "Vai verificar primeiro e, depois, se confirmar, a
gente assina decreto etc." Todas as medidas foram autorizadas e feitas. Agora, se você tem
informações que ficam circulando pela imprensa de que um
governador diz que o dado está
errado, que tem gente burilando essa história...
FOLHA - A culpa é da imprensa?
CAPOBIANCO - Não é culpa da
imprensa. Você tem uma porrada de informações sendo veiculadas sobre isso. É natural
que o presidente mande checar
esse negócio. Mas não é checar
primeiro para depois agir. É
ação imediata. O vôo que fizemos não foi para conferir o Deter e sim para verificar o que estava ocorrendo. A pergunta que
o presidente nos fez foi: essa situação do segundo semestre de
2007 implica que haverá aumento na taxa anual do desmatamento? E a resposta é não. Se
as medidas forem adotadas, podemos manter a redução.
FOLHA - E a discussão de reserva legal? O governo não quer mexer nisso, mas está sendo pressionado...
CAPOBIANCO - Primeiro é preciso saber qual é o ponto de partida. Se o ponto de partida é que a
reserva legal é 80%, se esse é o
entendimento, e o próprio governador Blairo Maggi disse
que esse é o entendimento dele,
se esse é o consenso, não tem
mais o que discutir.
FOLHA - Então, para fins de novos
desmatamentos, não haverá revisão de reserva legal?
CAPOBIANCO - Para efeito de
desmatamento, de forma alguma. Seria uma catástrofe. Seria
legalizar o desmatamento.
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